Título: Diamante sintético atinge perfeição
Autor: Michael Ha
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2005, Economia, p. B8
Os diamantes artificiais estão agora tão perfeitos que confundem os especialistas. A indústria dos diamantes está esperando que ninguém perceba. Leo, um homem meio calvo com sotaque israelense, está de pé atrás de um balcão de vidro numa das centenas de joalherias da rua 47, o coração do distrito dos diamantes de Nova York. Leo ganha a vida com sua habilidade em avaliar a autenticidade e o valor de diamantes. Ele está examinando três pequenas pedras, cada uma delas pesando menos que um quilate (1 quilate = 199 miligramas) - uma cor de rosa, uma incolor e uma terceira ligeiramente esverdeada, chamada marquesa. Ele pega o cristal cor de rosa entre os dedos indicador e do meio, coloca-o delicadamente sobre o balcão e analisa-o usando um ocular - verificando a forma como a gema reflete a luz, sua pureza, o formato e a qualidade da lapidação. Repete o processo com as duas outras pedras.
"Elas são de verdade", declara ele, entregando um cartão de visitas sem sobrenome. "São muito boas, mas você não conseguiria se aposentar com o valor delas. Volte quando tiver pedras maiores".
A experiência e o talento de Leo, aprimorados por anos comprando e vendendo diamantes, o enganaram. As gemas que ele acaba de examinar não são o produto de forças geológicas agindo por milhões de anos - elas foram feitas num laboratório de Boston há poucos dias. Mas Leo não foi o único comerciante que o repórter da Newsweek conseguiu ludibriar.
Yzhak Shemtov, que é dono do box n.º 51 num apinhado comércio de diamantes do outro lado da rua, dá uma olhada demorada e firme nas pedras e pergunta: "Quanto vocês estão pedindo?" Alex, que tem um escritório num mezanino na 67 West com a rua 47, desvia a atenção da televisão e pergunta:"Você trabalha para o FBI?" Depois, examina os supostos diamantes através do ocular. "Não, não, estes não são sintéticos." Dez quarteirões adiante, em frente ao Carnegie Hall, Lee Rosenbloom da Plaza Galleries submete as pedras a uma série de testes para verificar se são zircônia cúbica e moissanite (experiência de Moissan, que resultou na produção artificial de pequenos diamantes). "São todas verdadeiras", diz ele.
Reações como essas estão deixando a indústria de diamantes nervosa.
Existem agora duas tecnologias para fazer diamantes em laboratório que produzem pedras virtualmente impossíveis de serem distinguidas dos cristais naturais extraídos da terra. A Apollo Diamond, uma firma de Boston, desenvolveu um método para fazer diamantes perfeitos numa câmara pressurizada e planeja começar a vender diamantes incolores e coloridos neste verão. A Gemesis, uma firma de Sarasota, Flórida, aperfeiçoou uma tecnologia que usa pressões e temperaturas altas para imitar a forma como os diamantes se formam naturalmente na terra. A Gemesis está agora vendendo gemas coloridas, incluindo raros diamantes amarelos e azuis, por cerca de 75% menos do que o preço de mercado de diamantes naturais e que são, segundo a maioria dos indicativos, idênticos. Sabe-se que ao menos três outras empresas estão trabalhando nessas tecnologias. A Mãe Natureza não tem mais o monopólio da feitura de diamantes.
Ainda não se sabe qual o impacto que esta invenção terá sobre o lugar ocupado pelos diamantes na nossa cultura. As civilizações, desde os romanos aos magnatas da Índia, cobiçaram essas pedras preciosas. Reis europeus da Idade Média as exibiam como símbolo de virtude. Mercadores da Renascença as acumulavam como símbolos de status. Nos tempos modernos, os diamantes se converteram na paixão tanto de futuras esposas como dos cientistas. O quanto este valor depende do local de origem - cerca de 150 quilômetros debaixo da terra, depois trazidos próximos da superfície por bilhões de anos de atividade vulcânica? O quanto isso é derivado do lampejo cintilante das gemas, o produto de uma estrutura cristalina octaédrica que reflete a luz exatamente da maneira correta? Os diamantes, diz George E. Harlow, autor de The Nature of Diamonds e curador de pedras preciosas do Museu Americano de História Natural, parecem como se "fossem criados por Deus".
Agora que os cientistas são capazes de recriar o esplendor de Deus em laboratório, será que continuaremos a valorizá-los tanto? Enquanto as pessoas envolvidas com a moda ponderam esta questão, a indústria de diamantes está tendo uma síncope. Mais do que qualquer outra pedra preciosa, o mercado de diamantes é baseado em grande parte numa ilusão. Contrariando sua reputação de gemas raras, os diamantes são relativamente comuns - safiras e rubis, que freqüentemente têm preços inferiores ao dos diamantes, são na realidade milhares de vezes mais raros. O que torna os diamantes caros e muito procurados é uma hábil combinação de marketing e de um suprimento cuidadosamente controlado por umas poucas grandes empresas.
Cinco grandes firmas exploradoras de diamantes - De Beers, Alrosa, Leviev, BHP Billiton e Rio Tinto - controlam quase 90% do mercado, segundo o Rapaport Diamond Report. O marketing é, na sua maior parte, obra da De Beers, a maior empresa mineradora de diamantes do mundo e criadora do talvez mais eficaz slogan de propaganda da história - "Um Diamante é para Sempre". Quase sozinha, a De Beers transformou os diamantes em sinônimo de amor e num símbolo internacional de compromisso; hoje em dia, 85% dos diamantes comprados e vendidos nos EUA são destinados a serem presenteados.
O que acontecerá se as pedras feitas em laboratório inundarem o mercado de US$ 60 bilhões do diamante como jóia, deteriorando os preços e esvaziando a ilusão de valor? A não ser as pérolas cultivadas, nenhuma outro produto artificial já suplantou tal tesouro da natureza. O chamado sintético pode tornar os diamantes tão comuns quanto o quartzo. "O mercado de diamantes poderá quebrar", diz Robert M. Hazen, um cientista da Carnegie Institution de Washington, D.C.
Embora os equipamentos para fazer gemas artificiais sejam dispendiosos, os especialistas dizem que é uma pechincha em comparação com o preço para abrir uma mina de diamante. É também muitas vezes mais barato para o fabricante colocar seus diamantes nas lojas, já que a longa cadeia de suprimento que vai da mina ao varejista é praticamente eliminada.