Título: GM paga para não ter de ficar com a Fiat
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2005, Economia, p. B10

A General Motors vai pagar à Fiat Spa 1,55 bilhão (US$ 2 bilhões) para acabar com a aliança feita em 2000 entre as duas companhias. O acordo, fechado ontem, encerra a disputa que poderia forçar a gigante americana a adquirir a unidade de automóveis do grupo italiano, atualmente passando pela pior crise de sua história. O pagamento da indenização rompe a aliança que iria completar cinco anos no próximo mês. Na ocasião, a GM adquiriu 20% das ações da Fiat, com direito a adquirir os 80% restantes. Mais tarde, essa participação foi reduzida a 10%, pois a Fiat realizou uma ampliação de capital em 2003 ao vender 51% do seu braço financeiro (Fidis) a um grupo de bancos.

O acordo desfaz também as joint ventures formadas entre as duas montadoras na área de motores e compras, mas mantém a cooperação em algumas áreas, por exemplo na produção de motores a diesel, tecnologia que a GM vem adquirindo da Fiat nos últimos. Será mantido ainda o desenvolvimento conjunto de algumas plataformas. Futuramente, o Corsa e o Punto, por exemplo, terão motor único.

A GM devolverá os 10% de participação da Fiat Automóveis. "Nós acreditamos que conseguimos um acordo justo e equilibrado que possibilita a ambas companhias manter um alto nível de redução de custos com a sinergia, mas de forma mais focada que dá a cada um de nós mais liberdade no ambiente competitivo atual", disse o presidente mundial da GM, Rick Wagoner.

A proposta foi aprovada pelos conselhos de administração das duas companhias, que se reuniram ontem pela manhã. Em uma conferência na sede da Fiat em Turim, na Itália, o presidente mundial do grupo, Luca Cordero di Montezemolo, disse estar feliz por ter concluído as negociações com a GM.

"Ainda que altamente benéfico tanto para a Fiat quanto para a GM desde 2000, o acordo tinha se tornado muito limitado para o desenvolvimento da Fiat Auto nas atuais circunstâncias de mercado. Nós agora temos a necessária liberdade para desenvolver estratégias de crescimento alternativas para a Fiat, e manter uma base sobre a qual poderemos construir um relacionamento muito mais produtivo com a GM no futuro", afirmou Montezemolo. Ele aproveitou para anunciar o lançamento de quatro novos modelos (dois Fiat e dois Alfa Romeo) neste ano.

A discórdia entre a GM e a Fiat referia-se à cláusula do pacto que dava a opção de venda do negócio automóvel do fabricante italiano ao grupo americano, entre 24 de janeiro deste ano e 24 de julho de 2010. A General Motors não estava interessada em adquirir o negócio da Fiat, que é deficitário, e defendia que esta cláusula perdeu a validade depois do aumento de capital realizado pelo grupo italiano em 2003 e a venda de 51% da sua entidade financeira.

Honrar o compromisso de compra da totalidade de ações da Fiat representaria um grande prejuízo para a GM, que no ano passado anunciou planos de cortar 12 mil postos de trabalho na Europa, com objetivo de economizar 466 milhões (US$ 600 milhões) ao ano.

A Fiat Automóveis, que responde por 40% do faturamento do Grupo Fiat, tem uma dívida de 8 bilhões (US$ 10,4 bilhões). A GM pagará 1 bilhão imediatamente e o restante quando estiver concluído o processo de dissolução das joint ventures, previsto para os próximos três meses. O valor, segundo fontes do mercado, é só um pouco mais da metade do que pedia a empresa italiana.

Montezemolo repetiu ontem uma mensagem nacionalista: "Agora a Fiat está toda em mãos italianas novamente". O superintendente mundial da Fiat, Sergio Marchionne, disse acreditar firmemente que "este acordo é justo e equilibrado para ambas as partes".