Título: Equipe econômica perde espaço no debate
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2005, Nacional, p. A4

A cruzada do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para mudar a Medida Provisória 232 levou os empresários a ignorar as negociações com a equipe econômica e transferir o local de sua luta para o Congresso. Menos de uma semana após governo e empresários iniciarem as negociações em torno da MP que altera a cobrança de impostos no País, os representantes do setor produtivo deram sinal claro de que vão preferir tratar do assunto diretamente com os parlamentares, onde a rejeição ao tema cresce numa velocidade expressiva. "Hoje (ontem) conversamos com parlamentares. Para se chegar na reta final, essa discussão vai, naturalmente, para o Congresso Nacional, na semana que vem", afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ao chegar para debater o assunto no Ministério da Fazenda. Na sexta-feira da semana passada, Skaf era só sorriso e otimismo ao sair de uma reunião com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para tentar encontrar um meio-termo para a MP.

Ontem, ao retornar para mais uma conversa sobre o tema, desta vez com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, o tom era outro e a falta de paciência para encontrar um meio-termo, visível. "Se ele nos falar isso, então a reunião não vai durar cinco minutos", chegou a dizer ao ser questionado sobre as declarações de Rachid que, na véspera, disse ser inaceitável retalhar a MP de tal forma que, no final, restasse apenas a correção da tabela do Imposto de Renda para as Pessoas Físicas (IRPF).

O cuidado da semana anterior para evitar polarizações também foi deixado de lado. Segundo Skaf, a posição dos empresários é fácil de entender: "Só somos a favor da correção da tabela", disse, referindo-se ao ajuste de 10% promovido na tabela do IR para as pessoas físicas.

O que mudou entre as duas reuniões? Se, antes, os empresários sabiam que tinham chances de mudar o texto da MP durante a tramitação no Congresso porque contavam com apoio de alguns parlamentares, depois que o novo presidente declarou que vai lutar contra a MP e partidos com representatividade na Câmara, como o PFL, fecharam questão em torno do assunto, eles estão certos de que conseguirão derrubar a medida. Se é assim, para que perder tempo negociando um meio termo? "O governo tem um peso fundamental nessa negociação, mas o Congresso tem suas alternativas", disse o presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Armando Monteiro Neto, tentando amenizar o clima. No entanto, teve de admitir, "se a MP não for alterada, não passa no Congresso".

Alterar nesse caso significa simplesmente retirar tudo o que o governo não quer abrir mão e deixar apenas a correção da tabela do IRPF que imputará uma perda de receitas de R$ 2,5 bilhões este ano para os cofres públicos. Certos de que é isso o que ocorrerá, os empresários foram para a reunião sem outra proposta. "Já esperava que essa reunião não fosse nada conclusiva", disse Skaf.