Título: Lula vê sucessão de erros na Câmara
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2005, Nacional, p. A7

Uma "sucessão de erros". Foi assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se referiu ontem à mais grave derrota política do governo, que perdeu o comando da Câmara com a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE), batizado até pelos colegas de "rei do baixo clero". Em reunião com 11 ministros, no Planalto - a primeira após o duro golpe sofrido na madrugada de terça-feira -, Lula afirmou que é preciso recompor com urgência a maioria na Câmara e restabelecer o diálogo com os deputados. Para pedir aos ministros que tratem "com mais carinho" os parlamentares, ele lembrou os velhos tempos de oposição. "Todos nós aqui já estivemos do outro lado", disse Lula. "Sabemos como era difícil ser recebido por um ministro. Mesmo para mim, que era um deputado conhecido, não foi fácil. Então, não vamos repetir esse erro."

A queixa dos deputados foi transmitida a Lula pelo ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. O presidente concordou em gênero, número e grau. Foi então que diagnosticou a sucessão de erros. lamentou o tempo gasto para enterrar a emenda da reeleição dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tema que dominou a agenda política no ano passado. Citou depois a disputa interna petista - que produziu um "cardápio" de sete postulantes do PT à cadeira de João Paulo -, o lançamento da candidatura de Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) sem consulta aos partidos aliados e a rebeldia do dissidente petista Virgílio Guimarães (MG).

ATÉ 2008

Diante dos problemas encontrados, a conclusão de Lula não trouxe novidades. "Vocês todos sabem que terei de fazer uma reforma ministerial", disse, sem detalhar como será a mudança na equipe. No encontro, porém, foram lembradas as traições de aliados como PTB, PMDB e PP, que não ajudaram Greenhalgh, apesar de todos os apelos do governo. Rebelo informou que o PL foi o partido mais fiel.

Convocada oficialmente para avaliar os conflitos agrários no Pará, a reunião começou com a avaliação palaciana sobre o revés sofrido na Câmara. Mas nem tudo foi tristeza durante a conversa de três horas e meia. Na tentativa de descontrair o ambiente, um ministro lembrou que Severino, o novo presidente da Câmara, defendeu a prorrogação do mandato de Lula até 2008. "Mas tem que ter outra eleição para mais dois anos", brincou. "Não vá pensando que é simples assim." Foi uma gargalhada só.