Título: Assassinato de irmã Dorothy teria custado R$ 50 mil
Autor: Carlos Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2005, Nacional, p. A9

Os matadores da missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, assassinada no sábado por dois pistoleiros em Anapu, no sudoeste do Pará, receberam R$ 50 mil pelo "serviço", pagos em dinheiro logo após o crime, segundo revelou ao Estado uma fonte de Altamira. Os pistoleiros fugiram em um avião, que decolou de uma fazenda do município, com ordens para "sumir" do Brasil. Os mandantes do crime, que seriam fazendeiros de Altamira e Anapu, alguns deles envolvidos em fraudes com financiamentos da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), conhecidos como "sudanzeiros", garante a fonte, andavam com irmã Dorothy "atravessada na garganta" e queriam se livrar dela de qualquer maneira.

LARANJAS

Tentativas isoladas para matar a religiosa já haviam fracassado porque numa delas um dos pistoleiros contratados contou em um bar de Anapu, embriagado, o que iria fazer. A missionária ficou sabendo e ligou para um jornalista de Belém, contando o fato, que foi publicado no jornal O Liberal.

Em outra ocasião, os pistoleiros acharam baixa a oferta para o crime de encomenda: apenas R$ 8 mil.

Em conversa que diz ter ouvido em uma danceteria de Altamira, ainda no domingo à noite, 36 horas após o crime, a fonte, que teme se identificar e também ser assassinada, garante que os pistoleiros autores da morte da freira não seriam os que estão sendo procurados - identificados como Eduardo e Fogoió - e cujo retrato falado foi divulgado anteontem pela Polícia Civil do Pará. "Esses foram 'laranjas' plantados para despistar as investigações. Os verdadeiros assassinos seriam outros, que a estas horas também estão muito longe do Pará", sustenta a fonte.

A ordem de fuga, ainda de acordo com a fonte, ocorreu porque os mandantes sabiam da grande repercussão que o crime iria alcançar, tanto no Brasil quanto no exterior.

Os dois carros encontrados próximos do local do crime também fariam parte do esquema de despistamento. Os veículos seriam roubados.

Os mínimos detalhes sobre os passos de irmã Dorothy também não foram esquecidos. Homens contratados se infiltraram entre os agricultores liderados pela freira, fingindo serem trabalhadores sem-terra. Um deles chegou a ser abençoado pela missionária, pedindo a ela um lote de terra.

O secretário de Defesa Social do Pará, Manoel Santino do Nascimento Júnior, ficou sabendo pelo Estado sobre o suposto preço para matar a missionária. "Desconheço a informação, mas vou investigar", prometeu Santino.