Título: PF prende 16 e desmonta quadrilha de grileiros
Autor: Leonel Roch
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2005, Nacional, p. A10

A Polícia Federal desbaratou ontem uma quadrilha formada por pistoleiros, advogados, corretores de imóveis, funcionários de cartórios e até policiais que grilavam terras na região norte do Tocantins. Durante a operação Terra Nostra, a PF prendeu 16 pessoas em seis municípios, inclusive na capital do Estado, Palmas, onde estava o empresário Luis Carlos Fagundes, acusado pela PF de ser o líder da quadrilha. Resultado de um ano de investigações coordenadas pela delegada Andréa Vasconcelos, a Terra Nostra faz parte de um conjunto de ações da Polícia Federal destinado a acabar com conflitos no Centro-Oeste e Norte do País. Nesta operação, a PF prioriza a investigação de crimes que envolvem a disputa por terras. Mobilizou cerca de 150 policiais, que fizeram blitze em casas, hotéis, sedes de fazendas e escritórios.

O superintendente da PF em Palmas, Rubem Patury Filho, disse que a quadrilha que atuava no Tocantins não tinha ligação com os matadores da missionária americana Dorothy Stang, assassinada no último sábado por pistoleiros em Anapu, no Pará. Mas admitiu: "Esses pistoleiros e grileiros do Tocantins poderiam cometer crimes parecidos." O grupo preso ontem agia de forma ordenada: falsificava documentos de cartórios para justificar a posse de grileiros em áreas devolutas e forjava contratos de cessão de direitos.

Com essa documentação, o grupo vendia a terra várias vezes a inúmeros interessados, utilizando corretores da região. Depois de receber a primeira parcela pela venda, ameaçava o comprador para que desistisse do negócio e aceitasse receber apenas uma pequena parte do que tinha pago pela terra, pertencente na verdade ao Estado ou à União.

SEGURANÇA

Acusado pela PF de grilagem de terras e pistolagem, Luis Carlos Fagundes se identificou como segurança do candidato derrotado à prefeitura de Bandeirantes Josafá Camilo Pereira dos Santos - que não foi preso, mas está sendo investigado.

Os dois estavam hospedados no mesmo hotel em Palmas. Interrogado, Josafá informou aos policiais que Fagundes fazia sua segurança por causa das ameaças de morte que vem recebendo desde que ganhou, na Justiça, o direito de tomar posse em substituição ao atual prefeito do município, José Arnóbio Silva, conhecido como Pelé, acusado de fraude eleitoral.

Josafá não quis dar declarações à imprensa. Mas confirmou aos policiais que Fagundes fazia sua segurança sem receber pagamento, somente em troca de alimentação. Com o político foram encontrados cerca de R$ 4 mil em dinheiro vivo e um rádio transmissor.

Também integravam a quadrilha o advogado Ronaldo de Souza Assis, apontado pelos policiais como o braço direito de Fagundes; a tabeliã do cartório de Registro de Imóveis de Tupiratins, Lucinete de Souza Araújo, e o corretor de imóveis Juldivan Pereira do Nascimento, detido em Guaraí. Com um dos três policiais presos a PF apreendeu uma arma.