Título: Emprego na indústria bate recorde
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2005, Economia, p. B1

O mercado de trabalho industrial acompanhou o vigor desse setor em 2004 e fechou o ano com resultados recordes tanto no crescimento do número de ocupados quanto no rendimento dos trabalhadores. No ano passado, o emprego na indústria cresceu 1,9% em relação a 2003, o melhor resultado anual desde 1989. A folha de pagamento real teve aumento de 9%, o maior desde 1993. Apesar dos bons resultados acumulados no ano, os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram desaceleração do mercado de trabalho na margem (dados mais recentes). A ocupação caiu 0,3% em dezembro, na comparação com novembro, o que a economista Isabela Nunes Pereira, da coordenação de indústria do instituto, interpreta como um sintoma de que o mercado de trabalho refletiu a "acomodação" do setor diagnosticada no último trimestre do ano passado.

Essa análise é compartilhada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), cuja avaliação, em relatório sobre os dados divulgados ontem pelo IBGE, é que, "se considerarmos o último trimestre do ano, a trajetória recente do emprego preocupa, tanto quanto a desaceleração que também se verificou no curso da produção industrial nesse mesmo período".

Mas, segundo Isabela, essa possível acomodação "não anula os resultados positivos de 2004, ano em que o emprego respondeu a um quadro econômico muito favorável, com exportações recordes e aumento muito forte das vendas do varejo".

NOVO IMPULSO

Segundo a coordenadora, os dados do varejo em dezembro (11,4% de crescimento nas vendas na comparação com igual mês de 2003) mostram que os estoques estão baixos, o que vai provocar novas encomendas para a indústria, impulsionando a produção e, em conseqüência, o emprego industrial.

Para o Iedi, "a expectativa de que o emprego industrial venha a repetir em 2005 o bom desempenho do ano passado depende do prosseguimento da recuperação da economia brasileira".

A instituição alerta que o crescimento industrial, mesmo intenso no ano passado, ainda não chegou aos setores que mais empregam, como vestuário e calçados, por exemplo.

"Mas, se esses setores forem envolvidos, teremos um grande incentivo para a evolução do emprego, mesmo na hipótese de que a indústria geral venha a registrar em 2005 um crescimento inferior ao do ano passado", avalia o Iedi, no relatório.

Isabela Nunes Pereira observou que os segmentos que apresentaram maior aumento do emprego no ano passado, como o de máquinas e equipamentos (14,1%) e alimentos e bebidas (setores mais voltados para a exportação, com alta de 3,7%) estão também entre os que mais impulsionaram a produção do setor no ano passado.

Entre as regiões, o Estado de São Paulo, que responde por 38% do emprego industrial no País, viu o número de vagas se expandir 1,5% no ano passado, com o maior impacto positivo para o mercado de trabalho desse setor.

RENDA

A folha de pagamento real (descontada a inflação) da indústria também desacelerou no fim do ano, apesar dos bons resultados acumulados. Isabela disse que as três quedas consecutivas ocorridas (outubro, novembro e dezembro) na folha em comparação com o mês anterior podem ter sido provocadas por contratações em setores que pagam salários mais baixos.

Como não há detalhamento setorial para os dados em ralação ao mês anterior, a coordenadora do Iedi disse que não há como confirmar essa possibilidade. Isabela destacou que as quedas em relação ao mês anterior não invalidam os resultados positivos que foram apresentados pela folha de pagamento da indústria no acumulado do ano passado.