Título: Proposta de não renovar com o FMI ganha força
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2005, Economia, p. B6

É praticamente unânime dentro da equipe econômica a tese de que o Brasil não deve renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo interlocutores do governo, o próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estaria de acordo com esse pensamento. Mas a decisão ainda não foi tomada e passa por uma avaliação bem mais complexa, que vai desde discussões sobre a meta de ajuste fiscal para este ano até a capacidade de o governo avançar, no Congresso Nacional, com as reformas necessárias para melhorar o funcionamento da economia este ano.

Enquanto não se fecha questão sobre o tema, Palocci tem insistido em que, se for para continuar com o aval do Fundo, que o Brasil tenha, pelo menos, direito a um acordo "mais light". Só que isso encontra resistências no FMI. Os detalhes do que seria essa versão mais flexível também não estão claros. Sabe-se apenas, em linhas gerais, que o desejo do governo é que o País possa prosseguir com suas próprias metas econômicas e ter acesso, sem burocracia, a um empréstimo do Fundo caso o cenário externo se complique.

O problema é que não há nada assim tão light no cardápio do FMI e vêm daí as resistências dos técnicos da instituição. Apesar de estarem encantados com o desempenho do Brasil, eles acreditam que essa solução pode abrir precedentes perigosos.

A renovação poderá envolver, ainda, um novo aperto nos gastos públicos - o que provocará uma nova carga de fogo amigo contra Palocci. A meta de resultado das contas públicas, fixada em 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, é identificada por analistas como a origem da dificuldade do Banco Central em controlar a inflação, apesar do aumento dos juros. Ela indica uma gestão menos austera no gasto público em comparação com 2004, quando o resultado foi de 4,61% do PIB.

Para Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do BC e diretor do Banco Itaú, a pressão de demanda a que o BC tanto se refere nas atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) está relacionada com o aumento dos gastos públicos e não com o estímulo ao consumo após a ampliação do mercado de crédito.

Outro argumento que pesa contra um novo acordo é o projeto do governo de atingir o chamado nível de investimento (investment grade) na escala de notas das agências internacionais de classificação de risco. "Se houver a decisão de governo de tentar conquistar o grau de investimento, é preciso estar fora do Fundo porque um acordo inviabiliza esse projeto no curto prazo", afirmou uma fonte do governo. No entanto, como o País precisa avançar três degraus antes de entrar para o clube das economias que as agências internacionais recomendam investir fortemente, a avaliação de analistas é que, se não houver nenhum atropelo, seria possível sonhar com isso a partir de 2007.