Título: Café tem melhor preço em 5 anos
Autor: Tomás Okuda
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2005, Economia, p. B20

A redução da oferta mundial de café tem garantido alta consistente dos preços do produto. Os contratos futuros na New York Board of Trade (Nybot) alcançaram nesta semana os níveis mais altos dos últimos cinco anos. Junto com o açúcar, o café poderá contribuir para amenizar as perdas na balança comercial do agronegócio este ano, já que outras importantes commodities agrícolas, como soja, milho e trigo, estão com preços baixos. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, durante seminário esta semana em Brasília, avaliou que o ciclo de preços ruins para a cafeicultura terminou. A saca do café no Sul de Minas bateu em R$ 300 livre ao produtor nesta semana. Há um ano, a saca valia cerca de R$ 200. Em 2002, quando os preços tiveram queda histórica, a saca estava em R$ 110.

Segundo o ministro, no próximo ano a oferta também será menor que a demanda. A Organização Internacional do Café (OIC) estima que a produção mundial de café em 2005/06 deve ficar entre 106 milhões e 108 milhões de sacas de 60 kg. Isso representa um déficit de cerca de 7 milhões de sacas em relação ao consumo.

Apesar da perspectiva otimista, os produtores não estão satisfeitos. Existe pressão para que o governo conceda o parcelamento das dívidas contraídas nas últimas três safras. No entanto, diante da firme posição da área econômica do governo em não ceder, por causa do atendimento a outras prioridades na área agrícola, os representantes do produtores já aceitam renegociar apenas as dívidas referentes à safra 2004/05. Estima-se que as dívidas dos cafeicultores referentes aos empréstimos para financiamento de custeio, colheita e estocagem das três últimas safras somam R$ 536 milhões. Desse total, cerca de R$ 100 milhões foram quitados até o último dia 10.

O corretor Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP), diz que os pequenos e médios produtores pouco se aproveitam da atual alta dos preços porque já venderam a produção. A colheita da próxima safra começa em abril, mas o Brasil deve colher pouco (entre 30,7 milhões e 33 milhões de sacas de 60 kg) em comparação com o potencial do parque cafeeiro. Ainda descapitalizado, o produtor não terá condições de investir em tratos nas lavouras. Por isso, Carvalhaes estima que a safra do ano que vem (2006/07) será melhor do que a atual, mas ainda abaixo do potencial produtivo.

As lideranças dos produtores também insistem na criação de um fundo mundial para regular oferta e estabilizar os preços do café. O governo, porém, resiste. Para o diretor-executivo da OIC, Nestor Osorio, a saída para evitar oscilações bruscas de preços está no estímulo ao consumo mundial de café. No Brasil, o consumo interno de café deve alcançar 15,8 milhões de sacas este ano, segundo a estimativa mais conservadora da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Mas o diretor-executivo da entidade, Nathan Herszkowicz, diz que existe a possibilidade de que a meta de 16 milhões de sacas, prevista para 2006, seja superada já neste ano.

Quanto à exportação, o Conselho do Exportadores de Café (Cecafé) estima que este ano o País deve embarcar cerca de 23 milhões de sacas de 60 kg. O resultado, se confirmado, vai representar o embarque de menos 3,44 milhões de sacas, ou uma queda de 13% em relação ao ano passado, quando foram embarcadas 26,44 milhões de sacas.