Título: AmBev já está comprando no Brasil toda a cevada que usa
Autor: Amanda Brum
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2005, Economia, p. B20

Pela primeira vez no ano de 2004, a AmBev, dona das marcas Skol, Brahma, Antarctica e Bohemia, conseguiu adquirir no mercado interno brasileiro 100% da cevada necessária para a produção do malte utilizado na fabricação de cerveja. Os ganhos não se resumirão ao controle mais acurado da qualidade da matéria-prima. Segundo Alessandro Sperotto, gerente de Agronegócios da AmBev, a aquisição da cevada no mercado nacional reduz a exposição aos custos em dólar da importação. Plantada entre maio e junho, e colhida de outubro a dezembro, a cevada é vendida sempre no mês de janeiro de cada ano. De acordo com Sperotto, a AmBev comprou a totalidade das 242 mil toneladas de cevada colhidas no Sul do País em 2004, resultado 17% superior ao obtido no ano anterior. Sperotto conta que de 70% a 80% da cevada que utilizará neste ano veio do Rio Grande do Sul e o restante do Paraná.

Sperotto credita este aumento de produção ao trabalho que a empresa faz com os produtores desses Estados, de incentivo ao cultivo da cevada com a garantia de preço mínimo e capacitação dos agricultores. "Esta é a primeira vez que conseguimos a auto-suficiência, e estamos trabalhando para que isso se repita." No ano anterior, 20% das necessidades foram supridas com cevada vinda da Argentina e Uruguai.

Segundo o executivo, a AmBev apóia a atividade de 4 mil produtores do Sul do País, embora nem todos tenham contrato direto com a gigante de bebidas, uma vez que muitas delas se organizam em cooperativas. Em terras gaúchas, por exemplo, a companhia incentiva a produção do grão há mais de 30 anos. "Neste ano, pagamos em torno de R$ 400 pela tonelada do grão de cevada, acima até mesmo do preço mínimo garantido pelo governo", diz. A área plantada, assim como o volume de produção, também subiu.

Dados da AmBev apontam que 111 mil hectares foram plantados com cevada, extensão 15% superior ao do ano anterior. Sperotto acrescenta que, parte do sucesso do trabalho feito com os produtores, se deve ao zoneamento agroclimático realizado pela Embrapa, a partir do qual é possível identificar as regiões mais propícias para o plantio do grão, a fim de obter a melhor qualidade ao final do processo. Além disso, a empresa de pesquisas criou um banco genético de cevada em parceria com a AmBev.

Sobre o lúpulo, outra importante matéria-prima da cerveja, Spezotto diz que, ao contrário da cevada, a AmBev importa quase a totalidade desse insumo. Ele não quis comentar a alegação da Schincariol de que, fundida com a belga Interbrew, a empresa brasileira de bebidas teria condições de exercer práticas desleais de concorrência. Ele restringiu-se a dizer: "Só tenho subsídios para falar da área de cevada."

Em maio passado, a Schincariol enviou documento ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pedindo que o negócio entre a AmBev e a Interbrew fosse vetado já que, com a transação, a empresa teria maior poder para comprar insumos adquiridos fora do País, como o lúpulo, em escala mundial.