Título: Porto Alegre não terá Fórum por 2 anos
Autor: VERA ROSA
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Nacional, p. A4

Empenhado em fazer o Fórum Social Mundial "fincar raízes em diversos pontos do mundo", o Comitê Internacional do Fórum anunciou, ontem, que sairá do Brasil - pelo menos nos próximos dois anos. Em 2006, ele se dividirá em vários encontros em diferentes cidades e, em 2007, será organizado em algum país da África. "Não podemos nos contrapor ao neoliberalismo apenas a partir de Porto Alegre", explicou Chico Whitaker, da Secretaria-Executiva da Comissão Brasileira de Justiça e Paz e um dos membros do Comitê Internacional do Fórum. Não por coincidência, a discussão de tirar o FSM de Porto Alegre surgiu logo depois de o PT perder as eleições na cidade, cuja prefeitura comandou por 16 anos. A decisão não foi influenciada por questões político-partidárias, garantem os membros do comitê, mas Whitaker confirma que Porto Alegre foi escolhida, em 2001, porque tanto o governo municipal quanto o estadual - na época também em mãos petistas - acolheram a idéia. Além disso, ressaltou, a prefeitura tinha exemplos de participação popular, como o orçamento participativo.

Coincidência ou não, a possibilidade de o fórum voltar a Porto Alegre também aparece por volta de 2009. Até lá terá ocorrido outra eleição municipal, na qual o PT tem a chance de recuperar o comando da capital gaúcha. Isso porque a tendência do comitê internacional é de, em 2008, voltar a fazer fóruns descentralizados e, em 2009, montar novamente um fórum mundial. Nesse caso, Porto Alegre, ou qualquer outra cidade brasileira, poderá ser a sede, embora tenha de competir com outras candidatas que se apresentarem ao comitê.

SIMULTÂNEOS

No ano que vem, o comitê pretende começar os encontros na mesma semana do Fórum Econômico de Davos, ao qual não abre mão de se contrapor. A estrutura pode prever videoconferências e contatos via internet. "Em alguns locais é difícil fazer um encontro em janeiro, em pleno inverno. Então podem acontecer em outras épocas, adaptados à realidade local", explicou Sérgio Haddad, membro do comitê e diretor de relações da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), uma das organizadoras do fórum.

Está descartada, no entanto, a possibilidade de o fórum tornar-se bienal. "Não podemos interromper um processo", disse Whitaker. Ele reconhece que o Fórum Social está ligado ao nome de Porto Alegre (assim como o econômico à cidade de Davos, na Suíça), mas não teme uma descaracterização. "Ou formamos uma rede planetária de resistência ao neoliberalismo, ou seremos aqui sempre um cantinho do mundo. Esse processo do fórum tem que se espalhar."

Ainda não está decidido em quais países deverão acontecer os fóruns de 2006. Até o fim de março, quando acontece o encontro mundial do Conselho Internacional do FSM, organizações sociais interessadas terão de apresentar projetos ao conselho, que definirá quais apoiará.