Título: Radicais ignoram apelo e prometem hostilizar Lula em Porto Alegre
Autor: VERA ROSA
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Nacional, p. A4

De nada adiantaram os recados do Palácio do Planalto e os apelos da direção do PT. Na abertura do 5.º Fórum Social Mundial, hoje à noite, políticos do PSTU e do PSOL - partidos formados por dissidentes petistas - prometem demarcar o território: a partir das 18 horas, durante a caminhada que sairá do Largo Glênio Peres com destino ao Anfiteatro do Pôr-do-Sol, às margens do Rio Guaíba, eles vão distribuir panfletos de convocação para um ato contra a passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Porto Alegre. O protesto, com vaias, está previsto para amanhã, quando Lula discursará no Ginásio Gigantinho, que tem capacidade para 15 mil pessoas. Convidado da entidade Global Call Action Against Poverty (Chamada Global para Ação contra a Pobreza), que reúne 70 organizações não-governamentais do mundo inteiro, o presidente aceitou participar do lançamento da campanha pelo cumprimento das Metas do Milênio, mesmo sabendo dos riscos.

"Lula não é bem-vindo aqui", afirmou a deputada Luciana Genro (PSOL-RS), expulsa do PT em dezembro de 2003. "Nós e os movimentos sociais da juventude e do campo estamos organizando um ato de protesto contra ele para quinta-feira (amanhã) e outro de apoio ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para domingo.

Luciana disse não ter constrangimento nenhum em hostilizar Lula por ser filha do ministro da Educação, Tarso Genro. "O governo Lula é a afirmação do velho. Está mais afinado com o Fórum Econômico Mundial, em Davos, até porque não acredita que um outro modelo é possível", ironizou a deputada. Na sua opinião, porém, Chávez merece aplausos, apesar das polêmicas que envolvem seus gestos políticos.

"Chávez construiu outra realidade e tem avançado na luta contra o imperialismo norte-americano e o latifúndio", comentou Luciana. Para a ex-petista, "ele, sim, mostra que outro caminho é possível, pois enfrentou plebiscito, protestos e ganhou todas".

Preocupados com o tamanho do protesto contra Lula - que também deverá ser engrossado por uma dissidência do Movimento dos Sem-Terra, batizada de MTL -, os organizadores do Fórum Social Mundial proibiram o uso de carros de som na caminhada de abertura do encontro, hoje à noite. Só serão permitidos aqueles que já estavam credenciados.

GENOINO

"Temos divergências até com petistas dos movimentos sociais, mas queremos respeito. O governo e o PT concordam com o debate, mas com uma condição: todos têm de entender que estamos no mesmo barco", argumentou o presidente do PT, José Genoino. O secretário de Assuntos Institucionais do PT, Paulo Ferreira, disse ter informações de que o PSTU alugou uma área diante do Ginásio Gigantinho, onde Lula fará seu discurso para pregar a aliança mundial pelo combate à fome no mundo. "A expressão é livre, mas a agressão é intolerável", comentou Ferreira.

PSTU

O presidente do PSTU, José Maria de Almeida, afirmou que o protesto a Lula também será reforçado por sindicatos ligados ao partido, contrários à reforma sindical proposta pelo governo. "É demagogia o Lula vir aqui falar sobre combate à fome quando sua política econômica aprofunda as condições miséria do povo", atacou Almeida, outro que integrou as fileiras petistas.

Na prática, nem a cúpula do PT nem o Planalto sabe a extensão da hostilidade no território social mundial. Mas o fato de o partido não estar mais no comando da Prefeitura de Porto Alegre nem do governo gaúcho preocupa ainda mais os organizadores do encontro pelo tom da disputa política anunciada.