Título: Teologia organiza encontro histórico
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Nacional, p. A6
Entre os vários encontros que antecederam o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, um dos que mais chamaram a atenção foi o chamado Fórum Mundial da Teologia e Libertação. Desde meados dos anos 80, quando o Vaticano impôs pesadas restrições à ação dos teólogos que defendem maior participação da Igreja em questões sociais e políticas, não se via um encontro tão representativo do grupo como esse. O evento só foi possível porque se organizou fora da Igreja católica, com recursos de organizações não-governamentais e sem necessidade de autorização de autoridade eclesiástica.
Um dos mais entusiasmados, o teólogo Leonardo Boff, disse que até os anos 80 os encontros internacionais da Teologia da Libertação, que defende a opção preferencial pelos pobres, eram freqüentes e produtivos. Acabaram desaparecendo porque a cúpula da Igreja, que não apóia essa linha de pensamento, pressionou as entidades católicas financiadoras desse tipo de atividade.
Além disso, segundo Boff, a Santa Sé teria dado a entender aos bispos de todo o mundo que seria melhor não abrigar em suas dioceses as reuniões de teólogos não alinhados. Essa seria a explicação para o encontro de Porto Alegre ter acontecido como mais uma atividade paralela ao fórum social, não como atividade oficial da Igreja. O arcebispo local, d. Dadeus Grings, não apareceu na Pontifícia Universidade Católica, onde ocorreu o evento.
Outro fator que contribuiu para a realização do evento foi seu caráter ecumênico. Teólogos de várias denominações evangélicas discutiram ao lado de católicos como levar as igrejas a contribuir de forma mais decisiva no combate à pobreza e às desigualdades sociais. No final, os participantes decidiram levar ao fórum uma proposta para que o dia da invasão do Iraque pelas tropas dos Estados Unidos e dos países aliados seja transformado no dia mundial da amizade muçulmana-cristã.
Nas conclusões finais, o encontro dos teólogos também defendeu uma influência maior do Estado em questões sociais. "O neoliberalismo criou uma espécie de complexo de inferioridade no Estado, com a idéia de que ele deve se afastar de tudo", disse o coordenador do encontro, o capuchinho Luís Carlos Susin.
O encontro deixou clara a sua preocupação com o fortalecimento de tendências fundamentalistas no meio cristão, especialmente nos EUA. "O que se observa é o crescimento de um cristianismo fundamentalista, conservador, que sacraliza Estados guerreiros. George Bush hoje dispõe de um aparato teológico, montado para dizer que Deus abençoa a guerra."
Dos eventos paralelos ao fórum social só prossegue hoje o Fórum Social da Comunicação. Terminaram ontem o Fórum Mundial de Juízes, o Fórum de Autoridades Locais pela Inclusão Social, o Fórum Mundial da Saúde e o Fórum Social das Migrações. Haverá, ainda, o Fórum Parlamentar Mundial, nos dias 29 e 30.