Título: Vestido de carteiro, Lula volta a atacar elite e antecessores
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Nacional, p. A8

Usando boné e camisa de carteiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que pessoas do "andar de cima" criticam projetos sociais do governo, como o Programa Universidade para Todos (Prouni), pois não querem que os pobres melhorem de vida. Ao inaugurar um centro de triagem dos Correios em Aparecida de Goiânia, ele também criticou analistas que não previram a redução do índice de desemprego abaixo de 10% e apostou que o País baterá novos recordes, inclusive no aumento das importações, com compra de equipamentos industriais. "Importar uísque não, mas importar máquina significa que estamos fazendo a nossa indústria crescer", disse. "Não há razão para a gente não acreditar que o Brasil terá um ano extraordinário."

Lula reclamou das críticas ao Prouni, segundo ele divulgadas em "alguns" meios de comunicação. "No Brasil é assim: toda vez que o pobre começa a ter o mínimo de atenção, aparecem os de cima para fazer críticas." Ele observou que o projeto vai possibilitar que 112 mil estudantes carentes ganhem bolsas na universidade.

TRANSPOSIÇÃO

Lula também voltou a alfinetar os antecessores, dizendo que eles não fizeram obras de infra-estrutura necessárias para o crescimento e a melhoria de vida no País. Ele atacou um "adversário" por ter prometido, na campanha presidencial de 94, levar água do Rio São Francisco para o sertão do Ceará.

Sem citar diretamente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula afirmou que foi criticado por deputados ao defender um estudo da viabilidade da transposição das águas do São Francisco. "Em 98, voltei à Assembléia e perguntei se alguém já tinha bebido um copo da água que o meu adversário tinha prometido levar quatro anos antes.

MANIFESTAÇÃO

Do lado de fora da Central de Tratamento de Cartas e Encomendas dos Correios, espaço que custou R$ 37 milhões, manifestantes ligados ao Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Sintec) exibiam cartazes e faixas com críticas ao governo. Uma das faixas dizia: "Abaixo as contra-reformas do governo Lula/FMI."

Depois de abraçar a carteira Eliene Alves, conhecida por Ligeirinha, e vestir o boné e a camisa amarela, que foi autografada pelos funcionários dos Correios, o presidente afirmou, no discurso improvisado, que tem um compromisso com a sua história e a sua origem no movimento sindical.

"Eu não vou jogar fora essa oportunidade. Deus não elege sempre um pernambucano de Caetés ou um metalúrgico para a Presidência." E emendou: "Se Deus quiser, vamos continuar a bater recordes atrás de recordes."

"Temos experiência de vida, tudo que se constrói não começa do dia para a noite, é preciso um processo de maturação", prosseguiu. "Poucos analistas econômicos acreditaram que o Brasil cresceria como cresceu no ano passado e poucos acreditaram que o desemprego ficaria abaixo de 10%."