Título: Radiação solar no limite máximo
Autor: Claudia Ferraz, Bras Henrique, Felipe Werneck e Si
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Vida &, p. A12

Queimaduras, alergias, envelhecimento da pele, catarata, cegueira e até câncer. A ação dos raios solares sobre a pele e o organismo é implacável. Àqueles que acham bobagem passar protetor solar para sair na rua e dispensam filtros com fator de proteção acima de 15, um alerta: até o fim de semana, o Estado de São Paulo terá índices máximos de radiação de raios ultravioleta (IUV), aumentando o perigo de doenças de pele. O alerta serve não só para quem está na praia ou não sai da piscina. Às 13h45 de ontem, o índice em São Paulo chegava a 7, com o tempo nublado. O índice, segundo um ranking adotado pela Organização Mundial da Saúde em 1994 para identificar o risco para cada faixa de radiação, é considerado alto. E a previsão é de que chegue a 14 (índice máximo) em quase todo o Estado nos próximos dias, perto do meio-dia.

A preocupação com o excesso de radiação solar sobre a Terra, decorrente da redução da camada de ozônio na estratosfera, levou a Secretaria do Meio Ambiente, por intermédio da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), a criar um projeto de cooperação com o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), para a realização de estudos sobre os fenômenos envolvendo ozônio, radiação UV e seus efeitos sobre a saúde humana.

O índice é calculado a partir de dados sobre a concentração de ozônio, altitude da localidade, horário do dia, estação do ano, condições atmosféricas (presença ou não de nuvens, aerossóis, etc.) e tipo de superfície (areia, neve, água, concreto, etc.). Conforme o especialista Marcelo Correa, do Inpe, no Brasil a diminuição da camada de ozônio pouco altera a atuação dos raios ultravioleta. "Estamos em uma região do globo terrestre entre a linha do Equador e 25 graus de latitude, portanto, pouco influenciada pelas variações da camada de ozônio."

Em Ribeirão Preto, a incidência muito alta de raios ultravioleta, atualmente com índice 8, mas também podendo chegar a 14 nos próximos dias, colocou a Cetesb em alerta. "É preciso orientar a população para que evite o sol perto do meio-dia, use roupas leves, óculos escuros com protetores ultravioleta e protetor solar", diz o gerente regional da companhia, Marco Antonio Sanches Artuzo. No Rio, o índice ontem foi 10, segundo o Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os índices diários e as projeções de incidência de raio ultravioleta são disponibilizados pelo site www.ambiente.sp.gov.br. "Essa divulgação é uma prestação de serviços", afirma Artuzo. "Muitas vezes as nuvens enganam e a pessoa se queima com o mormaço. É bom salientar que o sol é necessário à saúde, mas sempre com proteção e até as 10 horas da manhã em dias de calor", lembra Correa. Guarda-sóis, por exemplo, só conseguem filtrar até 30% da radiação de ultravioleta. A UFRJ também mantém um site (www.indiceuv.ufrj.br), atualizado diariamente, com os índices em todos os Estados do País.

CUIDADOS

Levantamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia indica que quase 70% da população brasileira se expõe ao sol sem usar protetor. E o perigo não ronda apenas aqueles que ficam horas à beira-mar ou brincando na piscina. Segundo o médico dermatologista da Faculdade de Medicina do ABC, Cláudio Wulkan, existem mais de 40 doenças causadas ou agravadas pelo sol e pela radiação ultravioleta. "O brasileiro associa o bronzeado com saúde. Precisamos convencê-lo do contrário."

Das 10 às 14 horas, as radiações de raios ultravioleta são mais intensas e lesivas, lembra o médico. "Os protetores solares auxiliam na prevenção do dano na pele, mas não significam proteção total. Geralmente indicamos como potência mínima o fator de proteção 15", diz ele, que também aconselha a utilização de filtros com proteção UVA e UVB.

Para que a ação do protetor seja mais eficaz, ele deve ser aplicado de 20 a 30 minutos antes da exposição ao sol e reaplicado a cada três horas ou após suor excessivo ou banhos de mar ou piscina. Na cidade, valem as mesmas regras.