Título: 'Itamaraty deveria ter sido mais firme'
Autor: José Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Internacional, p. A16

A posição hesitante do Itamaraty no princípio do seqüestro do engenheiro brasileiro no Iraque deixou uma sensação de insegurança em relação à representação nacional no exterior, avalia a professora de direito internacional da Universidade de São Paulo Georgette Nazo. Segundo ela, o "silêncio desagradável", quando o governo anunciou que a negociação para libertar João José de Vasconcelos Júnior ficaria a cargo da empresa Odebrecht, também causou desconforto na frente externa, por contrastar com as posições mais firmes que vinham sendo adotadas pelo Brasil, país que pleiteia uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. Georgette falou ontem ao Estado. Por que, em sua opinião, o Itamaraty a princípio ficou de fora do caso?

A primeira atitude passou a impressão de que houve receio de interferir para não ir contra as posições defendidas pelos americanos no Iraque. A Odebrecht, apesar de ser brasileira, estava prestando serviços a uma companhia americana.

Essa posição não abala a credibilidade da representação diplomática nacional?

Sem dúvida o episódio deixou todos os brasileiros inseguros a respeito do nosso serviço diplomático e causou certo desencanto. Foi uma ação estranha; sempre houve apoio do Itamaraty. Embora trabalhando no exterior, sabendo dos riscos que corria, o engenheiro é um cidadão brasileiro.

O caso também arranhou a imagem do Brasil no exterior?

Eu diria que causou um desconforto. Se o Brasil quer uma vaga no Conselho de Segurança da ONU deveria ter agido com mais firmeza, como vinha fazendo antes. O Itamaraty não soube lidar com um problema dessa envergadura. Deveria ter dito desde o início que é contra a guerra, mas iria negociar com quem for.