Título: Lula pede ajuda a presidente sírio para negociar libertação de refém
Autor: José Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Internacional, p. A16

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou ontem por telefone com o presidente da Síria, Bashar Assad, para pedir sua interferência no esforço de libertação do engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Júnior, da construtora Norberto Odebrecht. Vasconcellos foi seqüestrado dia 19 no Iraque por um dos grupos armados que se opõem à ocupação americana do país. A informação sobre o apelo de Lula a Assad foi dada pelo chanceler Celso Amorim. Segundo Amorim, Lula apresentou seu pedido como "uma questão humanitária e de solidariedade" e teria obtido do presidente sírio uma reação positiva e o compromisso de uma resposta em breve. Lula informou a Assad que enviou a Amã, na Jordânia, o embaixador extraordinário para o Oriente Médio, Affonso Celso de Ouro Preto, e antecipou que o diplomata poderá ir a Damasco para tratar da questão.

Até o momento, o governo brasileiro não enviou nenhum representante ao Iraque - nem mesmo o chefe do Núcleo Iraque da Embaixada do Brasil na Jordânia, Paulo Joppert, que seria o responsável por reorganizar a representação do País em Bagdá. Ao ser questionada sobre esta decisão do governo, a assessoria de imprensa do Itamaraty respondeu com certa ironia. "Você acha que precisa estar presente fisicamente, ainda mais em um país tão conturbado, para resolver este problema?", rebateu um diplomata.

Segundo Amorim, Assad disse a Lula que a população iraquiana verá este seqüestro como totalmente injustificado. O Itamaraty explicou que Lula decidiu apelar ao presidente da Síria - um dos países que os EUA apontam como "patrocinadores do terrorismo" - pois se trata de uma nação com profunda ligação cultural e histórica com o Iraque. Amorim lembrou que Lula já visitou a Síria em 2003 e informou que o governo brasileiro também está fazendo contatos com outros países, sem informar quais. Lula decidiu agir pessoalmente após várias críticas à atuação do Itamaraty (ler abaixo).

A comunidade árabe da Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) enviou ontem à TV árabe Al-Jazira e a embaixadas uma carta aberta dirigida aos seqüestradores, pedindo a libertação de Vasconcellos. "Não queremos ficar de braços cruzados", disse o presidente do Centro Cultural Beneficente Islâmico de Foz do Iguaçu, Zaki Mussa. Assinada por líderes de 15 associações, a carta destaca que o Brasil se negou a participar da coalizão liderada pelos EUA no Iraque.

O presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, o engenheiro civil Wilson Lang, encaminhou um pedido de ajuda ao secretário-geral da Federação de Engenheiros Árabes, Abel Alhadithi, para "acompanhar de perto o desenvolvimento dos acontecimentos".

A Associação dos Clérigos Muçulmanos do Iraque afirmou que, caso seja procurada pelo governo brasileiro, pode fazer um apelo pela libertação de Vasconcellos. "Nossa participação seria somente na forma de apelo pela libertação do refém", disse à BBC Brasil o xeque Omaar Raaghib, porta-voz da organização sunita.