Título: Desemprego é o menor em três anos
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Economia, p. B1

A taxa de desemprego caiu para 9,6% em dezembro, a menor apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde o início da série histórica da pesquisa mensal de emprego, em outubro de 2001. Os resultados do último mês de 2004 coroaram um ano de reação do mercado de trabalho, após a deterioração ocorrida em 2003. "A melhora no cenário econômico está se refletindo no mercado de trabalho", disse o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo Pereira. Apesar da melhora, o rendimento prosseguiu em queda, com recuo acumulado no ano de 0,8%. O especialista em mercado de trabalho José Marcio Camargo, da PUC-RJ, atribui a queda do desemprego ao crescimento da economia. Na média do ano passado, a taxa de desemprego foi de 11,5%, inferior aos 12,3% de 2003. Em dezembro, a taxa foi menor do que havia sido em novembro (10,6%). Para os analistas da GRC Visão, a melhora nas condições de emprego do País "deveu-se tanto à continuidade do crescimento do comércio exterior quanto à revitalização de setores importantes para a economia, como construção civil, comércio e transportes".

Pereira sublinhou que o ano passado foi marcado por um crescente aumento do emprego formal e do número de ocupados, além de queda no número de desocupados. Além disso, houve um início de recuperação real do rendimento médio dos trabalhadores no último trimestre.

RENDA

Apesar da recuperação da renda, ante igual mês do ano anterior, desde setembro (em dezembro, houve aumento de 1,9%), a reação não foi suficiente para evitar uma queda real de 0,8% em 2004 em relação ao ano anterior. "O ano de 2003 foi crítico para o rendimento e a recuperação do final do ano passado não foi suficiente para reverter as perdas", disse Pereira. "A queda apurada na renda foi o pior resultado econômico do País no ano passado", avaliam os economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O trabalhador das seis regiões metropolitanas pesquisadas teve um rendimento médio em 2004 de R$ 907,84, ou cerca de meio salário mínimo atual (R$ 139) menor do que o rendimento médio de 2002, por exemplo, que alcançava R$ 1.046,85. Em 2003, o rendimento médio atingia R$ 914,74.

Ainda assim, o resultado de 2004 foi bem melhor do que o de 2003 em relação a 2002, quando houve queda de 12,5% na renda. Além disso, a massa de salários (multiplicação do salário médio real pela população ocupada) cresceu 2,3% no ano passado comparado ao ano anterior. Uma reposição mais vigorosa do rendimento foi impedida pela característica do crescimento da ocupação no ano passado, que esteve concentrado em setores que pagam salários mais baixos, como construção civil (4,6% ante 2003, com aumento mais forte especialmente no final do ano) e serviços domésticos (11,3%). A indústria (4,5%) também aumentou o número de vagas, mas não em volume suficiente para puxar os salários médios para cima.

Camargo alerta que dificilmente o rendimento vai crescer com mais vigor enquanto houver tanta pressão sobre o emprego, ou seja, enquanto a busca por uma vaga for muito maior do que o número de novos postos criados, como vem ocorrendo. "O descompasso entre aumento de empregos e de renda ainda existe porque há muita folga no mercado de trabalho", disse o especialista. De fato, apesar da melhoria do mercado em 2004, ainda havia 2 milhões de desocupados nas seis regiões em dezembro, volume inferior aos 2,3 milhões que havia no mesmo mês de 2003, mas ainda assim um contingente equivalente a mais de 10% dos 19,5 milhões de ocupados.