Título: ONU prevê inflação de 6% no Brasil
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Economia, p. B6

A Organização das Nações Unidas (ONU) indica que a inflação no Brasil poderá ser de 6% em 2005, ficando acima das metas do governo e superior mesmo às expectativas do mercado em 2005. A avaliação faz parte de um relatório sobre o estado da economia mundial neste ano, publicado ontem. O centro da meta de inflação traçada pelo governo é de 5,1%, enquanto o mercado financeiro espera um índice de 5,7%. A ONU ainda destaca que o crescimento do PIB brasileiro deverá atingir 4% este ano, a mesma taxa anunciada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, ante 5% na Argentina e 8,75% na China.

Para que as principais economias da América Latina continuem a crescer, a ONU dá a receita: boas condições macroeconômicas, taxa de juros comparativamente mais baixas, uma política fiscal sólida, inflação baixa, moeda competitiva e superávit comercial. Se isso ocorrer, a ONU explica que os governos terão maior liberdade para manobrar a política macroeconômica e sugere que o momento seja aproveitado para tomarem medidas para reduzir a vulnerabilidade e gerar um crescimento sustentável.

No geral, a economia mundial deverá ter um crescimento abaixo do que foi registrado em 2004, quando o PIB do planeta aumentou em 4%. Neste ano, a previsão é de um crescimento de 3,25%, com os preços do petróleo e o déficit fiscal dos Estados Unidos sendo os responsáveis pelo desempenho mais modesto. Para a ONU, a desvalorização do dólar não será a solução para os desequilíbrios globais. Mesmo assim, as previsões são de que o crescimento ficará acima da taxa de 2,8% registrada em 2003.

A situação dos países emergentes ainda seria estável para 2005, embora o cenário internacional não seja tão favorável como no ano passado. Esse grupo de economias crescerá a uma taxa média de 5,5%, diante de um aumento do PIB dos países ricos de 2,5%. A América Latina, porém, será a região com o pior desempenho entre os emergentes e deverá crescer 4%, abaixo dos índices de 4,75% na África ou 6,5% no Leste da Ásia. O Brasil, portanto, também cresceria abaixo da média dos emergentes.

Em 2004, a América Latina cresceu 5,4%, a melhor taxa em seis anos, e o bom desempenho seria explicado pela recuperação da Argentina, Venezuela e a "aceleração do crescimento brasileiro". A ONU reconhece que algumas economias da região conseguiram criar, ainda que de forma tímida, um "ciclo virtuoso de crescimento", em parte graças ao cenário internacional que estimulou as exportações.

Para os economistas, a nova demanda externa gerou novos investimentos, favorecidos por uma relativa diminuição dos juros. O consumo respondeu e foi acompanhado por uma pequeno aumento na criação de empregos.

Para 2005, a região continuará a crescer, mas o ambiente internacional será menos favorável que o esperado, desacelerando o ritmo. Ainda assim, a inflação média continuará a cair de 7,4% em 2004 para 6% em 2005. Segundo a ONU, os riscos para as principais economias latino-americanas são os preços do petróleo, que poderiam acelerar a inflação na região, obrigando a uma alta nos juros e queda na demanda interna.

De fato, esse cenário já foi identificado no final do ano passado. Para 2005, com a demanda pelo petróleo ainda crescendo, a estimativa é de que os valores dos barris não serão reduzidos. A previsão é de que a China continue aumentando suas importações, ainda que sua economia tenha um crescimento de 8,75%, e não 9,2%, como em 2004.

Outro risco para a América Latina é aumento dos juros nos EUA, que terá de lidar com seus desequilíbrios em conta corrente. Para a ONU, alterações violentas nas taxas podem afetar a economia da região. Para concluir, uma desaceleração forte da economia americana ou das importações chinesas também seriam sentidas.

A saída seria fortalecer a demanda doméstica, que poderia neutralizar parte dos riscos. A ONU lembra que a demanda doméstica representa 80% da demanda total da região e, portanto, um pequeno aumento seria suficiente para compensar perdas no mercado externo.