Título: Queda do dólar foi prevista há um ano
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2005, Economia, p. B9

A reunião anual do Fórum Econômico Mundial será aberta hoje com um debate em que o dólar fraco e seus efeitos no mercado global estarão entre os temas principais. A fraqueza da moeda americana, que hoje preocupa tanto os governos europeus quanto os exportadores brasileiros, confirma as avaliações feitas no ano passado, na mesma sessão de abertura, por um economista famoso por seu pessimismo, Stephen Roach, do banco de investimento Morgan Stanley. Só que no ano passado Roach não era o único a prever que a moeda americana despencaria, num prazo não muito longo, se os Estados Unidos continuassem a depender fortemente do financiamento externo. Ele e outros economistas de primeiro time fizeram essa advertência durante pelo menos dois anos.

O presidente do Banco Central dos Estados Unidos, Alan Greenspan, também se juntou ao clube, avisando que os financiadores estrangeiros deixariam de acumular papéis americanos, se os buracos no orçamento federal e nas contas externas dos Estados Unidos não começassem a diminuir.

Quando essas previsões foram noticiadas, bancos centrais de vários países já estavam diminuindo suas compras de papéis denominados em dólares e fortalecendo suas reservas com euros. Esse movimento começou ha dois anos, segundo uma pesquisa com 65 bancos centrais divulgada há poucos dias. No final de 2003, 70% das reserves mantidas pelos bancos centrais eram em ativos americanos. Ao comprar esses ativos, bancos centrais estrangeiros financiaram, naquele ano, mais de 80% do déficit dos Estados Unidos na conta corrente do balanço de pagamentos.

No ano passado, o Banco Central da China comprou papéis equivalentes a US$ 207 bilhões e financiou sozinha quase um terço do déficit americano em conta corrente. A China estava cumprindo com rigor o que alguns analistas descreviam como um acordo sem palavras: os americanos continuariam suportando um enorme déficit comercial com os chineses (mais de US$ 100 bilhões) e estes comprariam títulos para financiar as contas dos Estados Unidos.

Se a China, como temem alguns, mudar de comportamento, o dólar ficará ainda mais enfraquecido e a economia global terá problemas muito mais sérios. Com o dólar em queda, reservas cambiais de vários países vêm sendo rapidamente erodidas.

Isso explica pelo menos em parte a ansiedade em relação à economia chinesa. Esse tema será discutido noutra das sessões iniciais da reunião do Fórum, nesta manhã.

O preço do petróleo também será assunto obrigatório no debate sobre conjuntura, pois é um dos fatores que ameaçam o prosseguimento da recuperação econômica mundial em 2005.