Título: Genoino admite que PT se afasta do movimento social
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2005, Nacional, p. A6

A 12 dias de completar 25 anos, o PT vive nova crise de identidade e quer recuperar o espaço perdido no movimento social desde que assumiu o governo. Preocupada com a desconstrução da imagem de esquerda do partido, a cúpula petista convocou uma conferência nacional para maio, em Belo Horizonte, com o objetivo de estancar divergências internas. Ao inaugurar ontem uma tenda do PT no Fórum Social Mundial, o presidente do partido, José Genoino, admitiu que a sigla precisa "fortalecer os laços" com a base.

"Uma das lições que tiramos do fórum é nesse sentido: é fundamental aprofundar a relação entre a militância política do PT e os movimentos sociais", afirmou Genoino. "Não podemos ficar afastados."

Apesar do esforço do governo e da direção do PT para sustentar que as vaias ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, foram insignificantes, na prática a manifestação incomodou. Não pelo fato de vir do PSTU e do PSOL, partidos formados por políticos que foram expulsos do PT. Mais do que isso, o protesto serviu para escancarar a queda-de-braço dentro do PT em torno dos caminhos a serem seguidos pelo governo Lula.

ENCRUZILHADA

Ontem, a esquerda do partido lançou a Carta aos Petistas, em português, espanhol, inglês e francês. No texto, políticos das facções Democracia Socialista e Articulação de Esquerda argumentam que "o Fórum Social Mundial e o jubileu de prata do PT são momentos adequados para debater (...) a mudança necessária nos rumos do partido e do governo".

"Estamos numa encruzilhada histórica porque até agora, depois de dois anos, o nosso governo não realizou o esperado", afirmou o deputado Chico Alencar (PT-RJ), da ala rebelde do partido na Câmara.

"Que 100% Lula nada!", criticou, numa referência à inscrição das camisetas que a direção do partido distribuiu no fórum para seus militantes recepcionarem o presidente. "Somos 100% PT e 100% socialismo, isso sim."

A poucos metros dali, Frei Betto, que foi assessor especial de Lula no Palácio do Planalto, pregou a mobilização da esquerda para mudar a política econômica do governo, começando pelas taxas de juros. "Se nós tivéssemos povo não precisaríamos estar preocupados com alianças", observou.

O deputado Ivan Valente (PT-SP), por sua vez, disse que o PT está se distanciando do movimento social desde o primeiro dia do governo Lula.

"Mas isso não vai ser resolvido só com uma conferência do PT", ressalvou. Na cidade de lona montada pelo Fórum Social Mundial, um pequeno grupo liderado pelo sociólogo Plínio de Arruda Sampaio Júnior e pelo dirigente da CUT Jorge Martins decidiu lançar ontem o movimento Dissidência. Os dois devem deixar as fileiras petistas em breve.

"Hoje é uma sexta-feira vermelha no fórum", resumiu Chico Alencar.

Genoino, no entanto, tentou amenizar a crise. "Administramos o departamento de mágoas e estamos calejados para resolver problemas", afirmou.