Título: Argentinos não perdoam gafe
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2005, Nacional, p. A6

A confusão de nomes feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ele chamou seu colega argentino Néstor Kirchner de "companheiro Menem" - em seu discurso no Fórum Social Mundial fez a festa dos principais jornais argentinos: eles não lhe perdoaram a gafe. O ex-presidente Carlos Menem é justamente o arquiinimigo político de Kirchner e já foi duramente criticado por Lula, que o acusa de corrupto. Para o La Nación, o presidente brasileiro "somou mais uma nova pérola à sua já habitual coleção de erros ao referir-se ao presidente Néstor Kirchner como o companheiro Menem". O jornal ressaltou que "os erros de Lula, que surgem quando o presidente brasileiro abandona o discurso escrito e improvisa, já se transformaram em um clássico no Brasil". Também no rádio e na televisão o episódio foi repetido incessantemente. O Clarín, mais discreto, comentou que "o erro teve a ver com as circunstâncias: o presidente estava nervoso porque um setor do auditório que assistiu ao seu discurso em Porto Alegre o vaiava". Enganos à parte, o discurso de Lula conseguiu bom espaço em jornais europeus e americanos. O The New York Times, por exemplo, dedicou largos parágrafos a trechos da sua fala e às respostas que deu aos que o vaiavam no ginásio Gigantinho. As reações de Lula provocaram "uma onda de aplausos de milhares de militantes do PT que usavam camisetas com os dizeres "100% Lula", relata o enviado especial do Times, Todd Benson. Ele conta, ainda, que no meio do discurso os insatisfeitos "distribuíam panfletos que o mostravam cumprimentando o presidente Bush", e o definiam como "aliado-chave do imperialismo ianque".

No jornal inglês The Guardian, o presidente recebe um tratamento mais duro. O repórter John Vidal abre mais espaço aos adversários de Lula, que o chamaram de "traidor". O presidente "foi forçado a ficar na defensiva, por militantes de seu partido que exigem politicas sociais mais radicais", diz Vidal, que ouve, entre outros, um indiano, John Samuel, dizer : "A maior tirania do mundo é a do estômago vazio".

No Los Angeles Times, o destaque foi o pedido de Lula às nações ricas para que façam mais pelos pobres. O enviado Henry Chu, lembra que ele destacou os avanços da economia, especialmente em emprego e exportações, dizendo: "Os ricos devem entender que não haverá paz a menos que acabe a pobreza".