Título: Mídia alternativa tenta aproveitar crise jornalística
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2005, Vida &, p. A15

Os meios de comunicação tradicionais sofrem uma "grave crise", acossados pelas novas tecnologias e pela perda de credibilidade, e isso abre um espaço para democratizar a informação, afirmaram ontem participantes do Observatório Mundial da Imprensa, durante o Fórum Social Mundial. Os defensores de uma imprensa alternativa propuseram que essa crise seja aproveitada para conquistar novos espaços e consolidar um velho sonho de quebrar o que chamam de monopólio da "informação dominante", controlada por grupos vinculados a grandes interesses econômicos.

O Observatório nasceu há dois anos, no terceiro Fórum Social Mundial, para defender os interesses do público, mas hoje os próprios militantes reconhecem que avançaram pouco. "Devemos aproveitar a crise da informação dominante para promover uma alternativa mais séria e mais profissional; assim nos imporemos", afirmou o presidente do Observatório, Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique.

Para ele, em 2004 vários casos que afetaram grandes e tradicionais meios escritos e audiovisuais evidenciaram o alcance da crise, enquanto as novas tecnologias disputam cada vez mais o interesse do público.

"A concentração dos meios se acentuou", disse Ramonet no seu discurso e deu vários exemplos de aquisição de meios tradicionais por grupos externos. Grandes meios em vários países demonstraram "não saber proteger sua credibilidade" e incorreram em escândalos de informação mal manuseada e até inventada, lembrou. Enquanto isso, avançam as novas formas de comunicação, em especial as ligadas à internet, como os blogs, e à telefonia celular.

Nos países desenvolvidos, o tempo máximo destinado à leitura de jornais caiu para 20 minutos per capita, comparado com várias horas dedicadas à navegação na internet. Nesse contexto, segundo Ramonet, o Observatório tem seu papel e deve mobilizar-se para evitar que a crise se agrave.

MAIS AÇÃO

Já o presidente emérito da agência Inter Press Service e secretário-geral do Observatório, Roberto Savio, pediu mais ações e menos palavras. "Peço que comecemos as atividades. Não atuamos e, se continuarmos assim, não vamos mudar nada", disse. Ele propôs várias ações para "socializar a informação", entre elas um intercâmbio permanente de informações entre jornalistas e a criação de um banco de dados na internet que possa ser consultado por qualquer um. Além disso, pediu a criação de um site novo para o Observatório, mais proveitoso e útil, e de uma escola de jornalismo virtual para a sociedade civil.

Para enfrentar os problemas da comunicação atual, disse, é necessário incentivar a pluralidade informativa com o uso de várias fontes, mais contexto na informação e mais cuidado com a arte da comunicação. De acordo com ele, as notícias ficaram menores e pobres, por isso "estamos fazendo um leitor estúpido, que a cada dia usa menos vocabulário".