Título: EUA e Grã-Bretanha já têm plano para retirada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2005, Internacional, p. A22

EUA e Grã-Bretanha combinaram em particular uma estratégia de retirada do Iraque com base na duplicação do número de recrutas da polícia local e na criação de unidades iraquianas que atuariam como intermediárias entre a polícia e o Exército, revelou ontem o diário britânico The Guardian. O acordo foi alcançado segunda-feira pelo secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, e seu colega britânico, Geoff Hoon. Ele teve como base recomendações do general americano da reserva Gary Luck, enviado ao Iraque pelo Pentágono no mês passado para observar as deficiências da força de segurança iraquiana.

A força policial mais agressiva destina-se a substituir gradualmente os 150 mil soldados da coalizão e constituirá a peça central dos planos da Grã-Bretanha e dos EUA para a retirada do Iraque.

Embora não tenha sido estabelecido um prazo para a retirada - em parte, dizem fontes britânicas, porque isso poderia encorajar os insurgentes -, a Grã-Bretanha fez da saída em fases sua principal prioridade.

"O esforço do secretário da Defesa concentra-se agora numa estratégia de retirada, mas sem um cronograma público", disse uma fonte militar ao Guardian.

Segundo ela, poderá ser pedida a ajuda de forças espanholas e italianas para treinar os iraquianos. Milhares de soldados da força multinacional apoiariam a polícia iraquiana - que, atualmente, tem uma reputação de deserção diante da insurgência.

O general Luck afirmou que, embora os EUA e a Grã-Bretanha preferissem retirar-se assim que houvesse estabilidade no Iraque, a preparação da polícia iraquiana poderá levar anos. O Pentágono disse nesta semana que espera manter 150 mil soldados no Iraque por pelo menos mais dois anos.

A Grã-Bretanha informou quinta-feira que enviaria mais 220 soldados ao Iraque para ajudar a preencher o vazio deixado pela Holanda, que vai se retirar em março.

Se a formação de forças de segurança iraquianas confiáveis puder ser acelerada, a Grã-Bretanha prevê vários estágios para uma retirada. Uma das datas é 15 de agosto, quando a Assembléia Nacional deverá aprovar a Constituição. Para 15 de dezembro está prevista uma nova eleição nacional.

O debate sobre a eventual retirada dos EUA do Iraque aumentou às vésperas das eleições, apesar de o presidente americano, George W. Bush, não acreditar que o novo governo iraquiano vai querer ficar sem ajuda.

"Parece que a maioria dos dirigentes do Iraque compreende que as tropas de coalizão são necessárias, pelo menos até que os iraquianos estejam em condições de combater", declarou Bush em uma entrevista publicada ontem pelo jornal The New York Times.

No entanto, se o novo governo de Bagdá pedir sua retirada, a resposta de Bush será "sim, claro", pois "é um governo soberano" que tomará suas próprias decisões, acrescentou.

O embaixador americano em Bagdá, John Negroponte, negou que essa possibilidade possa ocorrer a curto prazo já que, segundo declarou ontem à rede CBS, tanto os EUA como o Iraque coincidem na necessidade de que as forças de segurança iraquianas tenham a capacidade necessária para defender-se sozinhas. "Este ano vamos dar grande prioridade ao treinamento e motivação das forças iraquianas para que possam assumir a situação", declarou.