Título: Dívida cai pela 1.ª vez em 10 anos
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2005, Economia, p. B3

Pela primeira vez nos últimos 10 anos, o setor público conseguiu fechar o ano com uma dívida menor do que a do ano anterior, se for comparada com o total da produção nacional , o Produto Interno Bruto (PIB). Em 2004, o estoque da dívida pública líquida - que inclui todos os empréstimos, financiamentos feitos no Brasil e no exterior, além dos títulos emitidos pela União, Estados, municípios e estatais - caiu de 57,2% do PIB (R$ 941,1 bilhões), no final de 2003, para 51,8% do PIB, em 2004 (R$ 956,9 bilhões). Desde 1995 que isso não acontecia. No ano passado, o crescimento estimado de 5% da economia fez com que a relação dívida/PIB caísse 7,7 pontos porcentuais, reforçando o impacto positivo do ajuste fiscal. Não fosse a carga de juros que elevou a relação da dívida com o PIB em 6,9 pontos porcentuais, o estoque do endividamento seria ainda menor.

O governo aposta que essa trajetória será mantida este ano, mas a expectativa do mercado financeiro, no entanto, é que a dívida volte a subir, encerrando dezembro, num cenário otimista sem grandes turbulências nos mercados de câmbio e juros, em cerca de 53% do PIB.

Os fatores que deverão contribuir para elevação do endividamento são praticamente os mesmos que ajudaram na queda verificada no ano passado.

O primeiro deles é a taxa de juros. Em 2004, a taxa média de 16,25% ao ano foi inferior à verificada em 2003 - 23,35% ao ano. Como o BC já iniciou este ano indicando que em 2005 o País deverá conviver com um longo período de aperto monetário, a expectativa é que as taxas mais elevadas pressionem o endividamento público.

Além disso, em vez de valorização de 8,13% do real frente ao dólar como ocorreu no ano passado, os economistas e analistas de mercado esperam uma pequena desvalorização da moeda brasileira. Isso afeta diretamente a parcela da dívida atrela ao câmbio, como títulos corrigidos pelo dólar e contratos especiais de câmbio, conhecidos como swap cambial.

Parte dessa alta esperada deverá ser compensada pelo crescimento da economia. Se a produção nacional sobe num ritmo mais forte do que os fatores que influenciam negativamente o estoque da dívida, isso ajuda a reduzir a relação entre o endividamento e o PIB.

Este ano, o governo manterá a trajetória de ajuste fiscal. "Tudo indica que essa trajetória será mantida em 2005", avalia o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Luiz Malan, admitindo, no entanto, que haverá forte influência do comportamento do câmbio e dos juros.