Título: Lula sai em defesa da política externa
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2005, Economia, p. B6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma vigorosa defesa da sua estratégia internacional para centenas de investidores, políticos e outros representantes da elite mundial em sessão ontem no auditório principal do Fórum Econômico Mundial. Ele também recapitulou os sucessos econômicos do seu governo, e, em resposta a uma provocação de Klaus Schwab, presidente e fundador do Fórum, disse que sonha voltar ao encontro, dentro de um ou dois anos, com o Brasil já integrando o Conselho de Segurança da ONU. Ao explicar as vantagens da ampliação do Conselho de Segurança, Lula criticou a invasão do Iraque pelos Estados Unidos. "Almejamos efetivamente democratizar as Nações Unidas, porque se a ONU fosse mais democratizada e mais países estivessem no Conselho de Segurança, certamente a gente não teria tido à guerra do Iraque como tivemos por decisão unilateral de um país".

Na outra sessão em que Lula participou, um debate sobre o combate à pobreza mundial coalhado de estrelas, ele voltou a defender o fundo contra a fome e combater o protecionismo agrícola dos países ricos. Entre os debatedores, estavam Bill Gates, presidente da Microsoft, o economista Jeffrey Sachs, o secretário das Finanças inglês, Gordon Brown, e o presidente da Tanzânia, Benjamin William Mkapa. Na platéia, figuraram Bono, da banda de rock U2, e os atores Richard Gere, Angeline Jolie e Sharon Stone, que roubou ao cena, ao pedir que contribuições ao combate à malária na Tanzânia fossem feitas ali mesmo, na hora, e quem quisesse contribuir se levantasse. A atriz doou US$ 10 mil e o total de contribuições de algumas dezenas de assistentes somou US$ 1 milhão.

Na sua sessão individual, Lula afirmou que assumiu o governo do Brasil com a missão de "mudar a geografia comercial do mundo". Ele lembrou que, quando anunciou este objetivo, "alguns imaginaram que nós iríamos brigar com os Estados Unidos ou com a União Européia". Lula explicou que isto não faria sentido, porque seria brigar com dois grandes parceiros comerciais. A sua intenção, continuou, era a de estabelecer uma "política de similaridade", buscando alianças com outros países emergentes como China, Índia e África do Sul.

BOM HUMOR

Em uma tentativa de começar com graça a sua conversa com o presidente Lula, na suíte presidencial do Hotel Belvedere, em Davos, o primeiro-ministro da Alemanha, Gerhard Schr¿der, comentou que havia ocupado o mesmo quarto até alguns minutos antes. Com bom humor, Lula disparou que tanto sabia do fato que já havia procurado nas gavetas do quarto algum vestígio do hóspede anterior, como "alguns marcos". Imediatamente, percebeu que havia mencionado a antiga moeda da Alemanha e se corrigiu: "Alguns euros".

A história caiu no gosto do líder alemão, que respondeu com uma forte gargalhada e com um gesto surpreendente. Schr¿der tirou do bolso um maço de euros e ameaçou oferecê-lo a Lula, diante das câmeras dos fotógrafos. Mas decidiu guardar o dinheiro e começar a conversa séria, para depois embarcar de volta à Alemanha.