Título: Diplomacia de Lula não define prioridades, adverte Lafer
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2005, Nacional, p. A5

Às vésperas de mais uma viagem do presidente Lula ao exterior, o ex-chanceler Celso Lafer lança uma crítica à diplomacia presidencial. Em entrevista ao Estado, Lafer questiona a forma pela qual os acordos bilaterais e regionais estão sendo negociados por Brasília. "Esses processos negociadores podem se traduzir em muita conversa e pouca prática", disse. Para o ex-ministro, há uma diferença entre a diplomacia praticada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a atual. "A diplomacia presidencial de Fernando Henrique tinha um sentido de direção e uma clareza sobre a inserção internacional do Brasil. O governo Lula trabalha em todas as direções e não tem um senso de prioridades. Com isso, os resultados ficam mais difusos", disse Lafer, reconhecendo que ainda é cedo para se ter uma avaliação mais completa da diplomacia de Lula.

"Cada um faz a diplomacia presidencial de acordo com a estratégia de sua personalidade. A diplomacia de Fernando Henrique obedecia à sua personalidade e ao fato de ser um analista da realidade internacional", avaliou. "No caso do presidente Lula, o dado mais interessante e que anima sua diplomacia presidencial é sua trajetória de vida e sua experiência pessoal."

Lafer, que acaba de participar de um grupo internacional que preparou um estudo sobre o futuro da Organização Mundial do Comércio (OMC), ainda deixou claro seu descontentamento com a forma pela qual o governo está negociando os acordos comerciais. "As negociações mostram problemas em relação ao Mercosul, dificuldades com os países da Comunidade Andina e problemas para encaminhar negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e com a União Européia."

No caso da Alca, o processo esteve interrompido por alguns meses diante das diferenças entre Brasil e EUA. O processo, segundo Brasília, deve ser retomado ainda neste mês. A negociação entre a UE e o Mercosul não se conseguiu fechar até outubro de 2004, como estava previsto.