Título: Fogaça tenta evitar que fórum deixe RS
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2005, Nacional, p. A7
O Comitê Internacional do Fórum Social Mundial começou a discutir ontem o que será feito do evento nos próximos dois anos. Apesar dos apelos do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), e do prefeito da capital gaúcha, José Fogaça (PPS), Porto Alegre tem poucas chances de voltar a ser sede do encontro antes de 2009. Há uma forte tendência entre as 129 organizações que compõem o Comitê Internacional a optar pela realização de fóruns continentais nos anos pares e de um fórum mundial a cada dois anos nos anos ímpares. O primeiro candidato a receber o encontro latino-americano em 2006 é a Venezuela. Em 2007 há um consenso de que o Fórum Social deva ser promovido na África. Mas as sedes só serão definidas em nova reunião do comitê, prevista para março.
Alguns integrantes do Comitê Internacional estão levando em consideração uma necessidade identificada desde a primeira edição do encontro: a internacionalização do fórum. "A idéia é pulverizar", ressalta o diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), Sérgio Haddad, satisfeito pelo resultado que o fórum obteve na Índia em 2004, quando multiplicou a mobilização do movimento popular naquele país.
"O fórum é planetário, assim como a globalização, e não deve resumir sua luta a um lugar só", complementa Francisco Whitaker, da Comissão Brasileira Justiça e Paz.
POLÊMICA
O discurso de Whitaker e Haddad evita uma polêmica que ameaçou se instalar entre os organizadores do Fórum Social Mundial quando o PT perdeu a eleição para a prefeitura de Porto Alegre em outubro. À época, alguns integrantes do comitê defenderam a mudança do evento para outra cidade, porque Porto Alegre teria deixado de ser a referência de governos que se opõem ao neoliberalismo e consultam as bases para elaborar o orçamento.
O novo prefeito, Fogaça, manteve o orçamento participativo criado pelo PT e, ao saudar o Comitê Internacional ontem, disse que não vai medir esforços para ajudar o fórum a ficar na cidade. Ressaltou que a posição não se deve apenas ao movimento econômico nem à projeção mundial que o fórum dá à cidade.
"O fórum é o símbolo da nova humanidade que desejamos construir", disse Fogaça. "No mundo que vem aí, o mais importante é garantir o direito de se expressar, com tolerância e respeito."
A exemplo de Fogaça, o governador Rigotto já havia pedido, na abertura do Fórum Mundial dos Juízes, no domingo à noite, que o Fórum Social Mundial prossiga em Porto Alegre.
Haddad não vê problemas. A edição indiana, em 2004, foi feita em Mumbai, uma cidade governada pela direita. "A troca de governo não pesa muito na nossa decisão", assegurou. "O fórum é voltado para a sociedade civil, não para os governos."