Título: Lula diz que MST tem de cumprir lei
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2005, Nacional, p. A12

Um dia depois de o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, ter comparecido à inauguração de uma escola do Movimento dos Sem-Terra (MST) em Guararema (SP), que vai formar quadros para "ocupar terra", sejam "produtivas ou improdutivas", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as leis têm de ser cumpridas por todos. "Há leis que o presidente da República tem que cumprir, que os sem-terra têm que cumprir, que o empresário tem que cumprir, que todos nós temos que cumprir", disse Lula, ao repetir, em seu programa quinzenal de rádio, uma parte do discurso que fez na sexta-feira, quando visitou o acampamento de sem-terra Lulão, na Bahia. O presidente, no entanto, repetindo o que tem feito nos últimos dias, de tentar acalmar os dois lados - os ruralistas, que têm se queixado do governo, e os aliados, como os sem-terra, que acusam Lula de se afastar de sua origem -, usou o Café com o Presidente para se justificar. "O presidente da República precisa receber todo mundo, precisa governar para todos, a gente não pode esquecer quem é mais companheiro ou menos companheiro." Ele reiterou que tem a nítida idéia de que, quando terminar seu mandato, vai voltar para São Bernardo, onde tem apartamento a 600 metros do sindicato dos metalúrgicos, para conviver com seus verdadeiros amigos que fazem parte dos movimentos sociais - a base da sua formação política.

Em outro trecho do programa, a exemplo do que fez na sexta-feira, Lula falou da importância do diálogo com todos os segmentos da sociedade e salientou que reforma agrária não se resume a assentamento. Segundo ele, é preciso, além da terra, assistência técnica, financiamento e garantia de preço. "Eu faço questão de lembrar essas coisas porque, também, todo mundo sabe que nós estamos subordinados a uma Constituição", disse. "Acho que as pessoas têm compreensão de que o processo político é lento, as mudanças não são feitas com a rapidez que a gente deseja, mas é importante que a gente esteja com a consciência tranqüila de que as coisas vão acontecendo", afirmou ele, que gravou o programa no sábado.

ÂNIMOS

Pouco antes, Lula fez questão de dar um recado aos seus antigos companheiros. "Quero que eles saibam que embora eu esteja presidente da República, tenho a mesma visão que eu tinha, antes de ser presidente, sobre o mundo real", disse. "Quando eu chego no acampamento dos sem-terra e vejo centenas de pessoas pobres que estão há dois anos embaixo de um barraco de lona preta e essas pessoas continuam com o mesmo discurso de esperança que tinham 10 anos atrás, sou obrigado a reconhecer que o presidente precisa receber todo mundo."

Na sexta-feira, Lula visitou o acampamento onde estão os sem-terra que invadiram no ano passado a área da fábrica de celulose Veracel e tentou arrefecer os ânimos da platéia, que havia acabado de ouvir as palavras de ordem do deputado estadual Walter Assunção (BA). O petista, que organizou a visita, discursou que, ao ir à área, Lula dava "energia" ao MST e sinalizava: "Pode continuar lutando que o presidente apóia os movimentos sociais." Lula lembrou que a lei tem de ser cumprida, apesar da demora nos julgamentos das ações, o que ele repetiu ontem, no rádio, talvez tentando aplacar a ira dos ruralistas, que protestaram contra a presença de Rossetto na escola do MST.