Título: Contrato pode ser de até US$ 1,5 bi
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2005, Internacional, p. A19

Os caminhos que levaram a Construtora Norberto Odebrecht ao Iraque passam bem longe das obras e negócios da empresa no Brasil. A Odebrecht se qualificou para a reconstrução iraquiana graças a sua atuação nos EUA a partir do início dos anos 90. Com sede em Coral Gables, perto de Miami, a Odebrecht Construction Inc. se firmou no mercado de construção por meio de parcerias estratégicas e grandes contratos públicos. O Brasil, desde o princípio, foi contra a ocupação americana do Iraque. Para participar do processo de reconstrução iraquiana, a Odebrecht se associou a uma parceira americana, a Austin Company, e inscreveu-se em uma licitação promovida pelo Corpo de Engenheiros do Exército Americano (Usace) para prestação de serviços no Oriente Médio, Ásia e África, com foco na reconstrução do Iraque. Com isso, credenciou-se entre empresas americanas e de países que apoiaram a invasão.

O contrato entre a Usace e a joint-venture Odebrecht-Austin pode chegar a US$ 1,5 bilhão em um período de quatro anos, a partir de janeiro de 2004. Uma reportagem publicada no Miami Herald na época da licitação, no ano passado, informa que, assim que o consórcio venceu a concorrência, recebeu uma garantia de pagamento da Usace de US$ 500 mil.

O restante será recebido conforme as obras forem contratadas. No primeiro ano de contrato, período em que foram realizadas as obras na usina de Beiji e em linhas de transmissão de energia do Iraque, as duas empresas poderiam prestar serviços com valor de até US$ 500 milhões. A mesma reportagem informa que os técnicos da Odebrecht começaram a visitar o Iraque a partir de maio de 2003.

Não é a primeira vez que a Odebrecht presta serviços ao Usace. Uma das primeiras grandes obras da construtora nos EUA foi a barragem de Seven Oaks, construída na Califórnia entre 1994 e 1999, por US$ 420 milhões. Parte de um programa contra enchentes tocado pelo governo, a barragem foi encomendada pelo órgão do Exército, responsável por esse tipo de obra. A Odebrecht também já construiu estradas na Carolina do Norte e complexos viários na Flórida. Hoje, toca duas grandes obras nos EUA: a ampliação do aeroporto de Miami, avaliada em US$ 658 milhões, e o Performing Arts Center, um conjunto de dois grandes teatros na mesma cidade.

A Construtora Norberto Odebrecht é a maior empresa de construção civil da América Latina e faturou no ano passado R$ 6,8 bilhões. Cerca de 75% do faturamento vem dos negócios realizados no exterior. Além do Iraque, a Odebrecht está presente em outras regiões de conflito. A empresa já teve funcionários seqüestrados na Colômbia e um canteiro de obras cercado por guerrilheiros em Angola. A atuação no Iraque é novidade para a Odebrecht. Entre o fim dos anos 70 e a Guerra do Golfo, outra construtora brasileira, a Mendes Júnior, realizou várias obras no país.