Título: CNI ataca estímulo a importações
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2005, Economia, p. B1

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, reconheceu ontem que alguns setores industriais estão recompondo suas margens de lucro de "forma intensa", pressionando a inflação, mas desaconselhou o governo a recorrer a uma eventual redução de alíquotas de importação como forma de tentar baratear o preço de produtos no mercado interno. "É um instrumento que funciona em alguns casos, mas tem alcance limitado", comentou, ao se referir a uma declaração atribuída ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião, semana passada, com a cúpula do PMDB. Monteiro defendeu "o caminho do diálogo" entre governo e setor privado para encontrar uma forma de conter as pressões inflacionárias, seja as provocadas pelo setor privado ou mesmo pelo governo. Ele disse que a conversa com o presidente, com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também na semana passada, foi uma conversa em que todos falaram abertamente sobre as várias nuances dos fatores que podem estar contribuindo para elevar a inflação.

O diagnóstico apresentado pelo presidente da CNI aponta para um círculo vicioso, no qual o governo também tem sua parcela de responsabilidade: "O governo gasta mais e mais, aumenta as tarifas, aumenta a carga tributária e cria inflação. É um círculo vicioso", comentou Armando Monteiro, em contraponto à constatação de que setores industriais estão aumentando seus preços para recuperar a margem de lucro. Segundo ele, o governo tem emitido sinais contraditórios, na medida em que pratica uma política monetária restritiva (com a elevação constante das taxas de juros) e uma política fiscal expansionista. "O governo vem gastando mais e mais. Está expandindo seus gastos."

Na defesa do "caminho do diálogo", o presidente da CNI descartou opções como pacto social. "Isso não dá resultados", comentou. "O que funciona é o diálogo permanente." O objetivo dos dois lados, segundo ele, é o de preservar o processo de retomada do crescimento econômico.

IMPLACÁVEL

Monteiro comentou que não se trata tampouco de medidas como a redução das tarifas de importação, assunto, que, segundo ele, não foi conversado durante o encontro com o presidente. A conversa, relatou Monteiro, "foi muito franca", e ele acredita que o presidente Lula "a considerou muito positiva". "Cada um falou livremente, mas não houve um sentido de admoestação ou recriminação."

No encontro, Meirelles e Palocci explicaram ao presidente da CNI que o BC precisa agir de forma implacável quando percebe pressão inflacionária, inclusive porque o Brasil ainda preserva uma cultura inflacionária e permanece o risco de uma inflação baixa se acelerar rapidamente. "Tem uma inflação de 10%, mas se deixarem ela vira 20%, 30% e aí acabou", comentou Monteiro. "Por isso o Meirelles se coloca numa posição de xerife, de guardião da moeda", acrescentou. Armando Monteiro comentou também que uma parte da inflação vem do exterior. É o caso, por exemplo, do preço do aço e dos produtos petroquímicos. Esses insumos sobem de acordo com a cotação internacional e têm fortes repercussões nos preços internos do País.

Armando Monteiro reconheceu, ainda, que existem dúvidas se as empresas estão ou não repassando aos consumidores os ganhos de produtividade que têm conquistado, o que poderia pressionar por uma baixa nos preços.

"Também houve ganhos de produtividade nas indústrias brasileiras, e não sabemos se eles foram repassados ao consumidor." O presidente da CNI disse que sua condição de representante da indústria não o impede de discutir esses pontos. "Não gosto de ficar em posições rígidas", comentou. "Acho que precisamos ter flexibilidade de olhar todos os aspectos."