Título: 'Importação não vai reduzir tarifas'
Autor: Nilson Brandão Junior, Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2005, Economia, p. B4

A bronca do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ameaçou estimular as importações para combater os repasses de preços, foi fortemente criticada por economistas. Segundo eles, uma medida como essa não seria eficaz para combater a inflação atual, causada principalmente pela alta de preços administrados, como as tarifas públicas. Especialistas afirmam também que, ao reduzir unilateralmente as tarifas de importação, o governo vai desperdiçar um precioso instrumento de política comercial, que deveria ser negociado e ter contrapartidas de outros países. Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a notícia causa surpresa. "Se abrirmos as importações estaremos cometendo o mesmo erro do início dos anos de 1990, quando rebaixamos as tarifas e não pedimos nada em troca." Ele explicou que o País perde poder de negociação nas discussões comerciais em curso, por exemplo com a União Européia (UE) e para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), ao reduzir unilateralmente as tarifas. "Se reduzirmos as tarifas espontaneamente aqui, vamos negociar o quê?"

Para Frederico Estrella, economista da Tendências Consultoria Integrada, uma medida como essa não necessariamente ajudaria a reduzir a inflação. Ele usa o exemplo do aço, uma commodity que pressionou a inflação no ano passado. "Ora, os preços internacionais do aço estão muito altos, então não vai fazer muita diferença abrir a importação, porque o preço no mundo está subindo."

Segundo ele, a situação atual é muito diferente do cenário pré-Plano Real, quando as importações ajudaram a segurar repasses. "Na época, as tarifas de importação em geral eram mais elevadas, e a falta de concorrência permitia grandes repasses no mercado doméstico", diz. "Hoje, as tarifas de importação já são bem mais baixas."

O presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Claudio Vaz, acredita que a queda do dólar já é um grande estímulo às importações. Ele não vê qualquer evidência de que a inflação seja provocada pelos preços livres. Para ele, são os preços administrados, que subiram 8% no ano passado, os responsáveis pela inflação. Os preços livres tiveram alta dentro da meta de inflação, por volta de 5%, diz Vaz. "A cotação da moeda já estimula a concorrência externa. Ao mesmo tempo, não há qualquer dado que mostre alta dos preços livres acima da meta", afirmou. "Na minha opinião, essa foi uma atitude muito mais voltada para justificar os aumentos de juros do Copom."

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda, se as importações forem estimuladas com a taxa de câmbio no nível atual (R$ 2,70), será um desastre a médio e longo prazos para o País. "O Brasil não suportaria isso", afirmou.

Lacerda ponderou que a redução das alíquotas de importação teria um efeito positivo imediato para o consumidor. Em contrapartida, a produção de muitos setores industriais ficaria inviabilizada. A longo prazo, segundo Lacerda, o estímulo à importação afetaria também o desempenho da balança comercial e do balanço de pagamento.