Título: Mundo não teve progressos em 2004
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2005, Economia, p. B10

O mundo foi reprovado mais uma vez em 2004 no esforço de lidar com a pobreza, eliminar a fome, proteger o meio ambiente e evitar conflitos. Estudo lançado ontem, pelo Fórum Econômico Mundial, aponta que os líderes do setor privado e dos governos não fizeram nem a metade do que seria necessário para lutar contra esses problemas e não cumpriram suas promessas políticas ou sociais. Entre os raros eventos positivos de 2004, o Fórum destacou o crescimento da economia brasileira e sua importância na luta para reduzir a pobreza. O documento servirá de base para os debates que ocorrerão a partir de amanhã, em Davos, na 35.ª edição do evento, que terão a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O estudo usa as Metas do Milênio da ONU - compromissos estabelecidos por 189 governos em 2000 - como base da avaliação dos esforços de governos e empresas. Entre as metas, a pobreza deveria ser reduzida em 50% até 2015 e o ensino primário deveria ser garantido a todos. E em todos os critérios o mundo obteve notas abaixo de 4, numa escala de 0 a 10, praticamente o mesmo índice atingido em 2003. Ou seja, a comunidade internacional foi negligente e não avançou. "Os líderes mundiais fizeram promessas solenes à humanidade. Ele estão quebrando essas promessas", afirma o documento, elaborado por especialistas de várias nacionalidades.

Os maiores fracassos se situaram na questão da paz e segurança, com nota 2. As crises no Sudão, Iraque, Palestina, Afeganistão, os atentados terroristas em Madri e Beslan, deixam claro que "os mecanismos para a paz são ineficientes e inadequados". O Fórum ainda concluiu: "Os esforços contra o terrorismo fracassaram".

No caso da redução da pobreza, o estudo aponta que o mundo não conseguiu avançar entre 2003 e 2004 e obteve nota 4. Os especialistas citam que, apesar de iniciativas positivas de vários países emergentes, os governos desenvolvidos não implementaram políticas adequadas para apoiar esses projetos. O relatório reconhece que o número de pessoas vivendo com menos de US$ 1 por dia passou de 28% da população mundial em 1990 para 21% em 2001. Mas não houve avanços em todas as regiões.

Para Davos, a falta de avanço nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) para a redução de subsídios agrícolas dos países ricos pode ser considerado como um dos fracassos do ano em termos de medidas que poderiam favorecer a luta contra a pobreza. Segundo o documento, o comércio está se tornando mais importante do que a ajuda externa para alguns países pobres. Davos reconhece, porém, que atuação do G-20 (grupo de países emergentes criado pelo Brasil) recolocou a negociação sobre a queda dos subsídios de volta aos trilhos.

No que se refere à fome, um dos temas principais de Lula em Davos, o estudo aponta que a primeira metade dos anos 90 teve progressos, mas na segunda metade da década houve retrocesso e hoje o planeta tem 842 milhões de famintos. Em 2004, o mundo teve nota 3 em suas ações. O Brasil foi elogiado pelo programa Fome Zero, tido como "exemplo" em dar segurança alimentar para porção mais pobre da população.

Na defesa dos direitos humanos, o mundo foi reprovado com nota 3. Os casos dos prisioneiros de Abu Graib, no Iraque, foram citados como um dos pontos negros de 2004. A situação crítica das prisões no Brasil também foi mencionada.

Na educação, os países ricos não destinaram mais do que 10% dos US$ 5,6 bilhões necessários por ano para garantir o ensino primário. O resultado foi nota 3. A mesma nota foi obtida em proteção ao meio ambiente: as empresas estão pouco engajadas em reduzir as emissões de gás para níveis estabelecidos em 2010.

Na saúde, a falta de coordenação entre EUA e as instituições internacional criadas para garantir a distribuição de remédios para a aids contribuiu para a nota 4, com o número de pessoas morrendo de aids aumentando a cada ano.

BRASIL

O estudo destaca, entre os pontos positivos do ano, a volta do crescimento econômico do Brasil. Juntamente com outros, como Chile, China e Índia, esse crescimento "reflete melhores políticas" por parte desses países.

Segundo os especialista, 2005 é um ano chave se os países quiserem de fato cumprir as Metas do Milênio, e deve ser uma das últimas oportunidades para recolocar os esforços internacionais no caminho para que a comunidade internacional possa construir um mundo mais estável e próspero.