Título: Freira avisou sobre as ameaças em carta ao Incra
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a analisar as ações e possíveis omissões de autoridades no caso do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, ocorrido no último dia 12, em Anapu, no Pará. Já está no gabinete da Presidência, no Palácio do Planalto, uma carta escrita por irmã Dorothy. Na correspondência, com data de janeiro, enviada ao presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, a freira relata as ameaças e descreve o "estado de terror" na região. Na carta, Dorothy diz ter "esperança" de que o povo paraense possa ter uma "vida melhor".

Também estão com o presidente uma série de ofícios e um abaixo-assinado enviados por entidades de direitos humanos a órgãos do governo federal. A papelada pede paz na área, critica a falta de interesse de governos locais em reprimir a atuação de pistoleiros e apresenta denúncias contra as Polícias Militar e Civil, fazendeiros e grileiros de terras.

No documento enviado ao presidente do Incra, irmã Dorothy agradeceu a visita de um funcionário do órgão a Anapu, cidade onde ela atuava. A visita teria garantido apoio à causa das famílias de assentados. "A garantia de desapropriar estas áreas sub judice do PDS (Plano de Desenvolvimento Sustentável) nos fez levantar mais uma vez a esperança", disse a missionária. "Viva, vêm dias melhores para o nosso povo." As cartas foram repassadas por diversos órgãos do governo federal ao Palácio do Planalto. Uma parte delas foi divulgada na semana passada por entidades não-governamentais. Na quinta-feira, o governo federal lançou um pacote ambiental para conter a atuação de madeireiros no Pará. Também enviou tropas para garantir a segurança na área.

INTIMIDAÇÃO

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu enviou a diversos órgãos estaduais e federais, no dia 27 de janeiro, um ofício com denúncias contra o capataz Amair Feijoli da Cunha, o Tato. Em certa ocasião, Amair e três homens de sua confiança teriam dado tiros para o alto na tentativa de intimidar e forçar a saída do pequeno agricultor Luiz Moraes de Brito de uma terra desapropriada pelo governo. "No dia 26 (quarta-feira) por volta das 6 horas, esse sr. Tato veio à frente da casa do agricultor Luiz e disse para o mesmo desocupar a casa e sair com toda a sua família, pois do contrário encheria todo mundo de bala", relata a carta.

Suspeito de ter contratado os pistoleiros que mataram irmã Dorothy, Tato se entregou à polícia no sábado. O capataz trabalhava para o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida. As cartas que chegaram ao Planalto também apresentam denúncias contra Gilberto e Gabriel Zucatelli e José Ricardo Ferreira Andrade, que teriam mandado pistoleiros expulsarem famílias da área onde o governo criou um Plano de Desenvolvimento Sustentável.