Título: Para Severino, Lula não sabe o que é governo de aliança
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2005, Nacional, p. A7

Cinco horas depois das declarações de Renan Calheiros, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, também defendeu um governo de coalizão, mas em tom de crítica ao governo e de ironia em relação ao comentário do presidente do Senado. "O Renan é sabido. Está abordando o tema que tem de ser aprendido pelo presidente Lula", disse. Informado de que Renan advertira que não será possível impor "goela abaixo" à opinião pública o aumento dos parlamentares, Severino afirmou que a sociedade aceita o debate sobre o reajuste de R$ 12.840 para R$ 21.500. "O que a sociedade não aceita é desonestidade e roubalheira e, se existir isto na Câmara, eu vou acabar." Ele prometeu mandar apurar denúncias de que deputados teriam sido pagos para trocar de partido, caso sejam apresentadas provas. O maior troca-troca foi no PMDB, que ganhou 13 deputados nos últimos 15 dias. "Levantar esse clima de desconfiança com todos os parlamentares é muito ruim", disse Severino, que semana passada contou que "ouviu dizer" que alguns receberam de R$ 20 mil a R$ 40 mil para trocar de partido. Segundo ele, o corregedor-geral da Casa, Ciro Nogueira (PP-PI), vai investigar se for feita denúncia. "Se tiver alguma coisa mais consistente vamos até o fim. Por enquanto é só boato e com boato não podemos fazer nada", explicou Nogueira. Há três semanas, Wilson Santiago (PMDB-PB) pediu à Mesa da Câmara que investigasse as filiações ao PMDB feitas pelo ex-governador do Rio Anthony Garotinho. "Não foi nada formalizado comigo e como o requerimento foi feito na gestão passada não tenho nada a fazer", disse Nogueira. Apontado como um dos autores das denúncias, Wladimir Costa (PMDB-PA) negou ontem que tenha provas de que deputados alugaram seus mandatos. "Não tenho provas e acho que é mais briga pelo poder e pela liderança do PMDB. É um boato da guerra política e não vejo como ter inquérito administrativo para uma coisa que não existe", afirmou Costa.