Título: Índios terão mais material e escolas
Autor: Liège Albuquerque
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2005, Vida &, p. A10

O governo federal e as secretarias de Educação do Amazonas vão apoiar a produção de material didático bilíngüe, formar professores e ampliar escolas para valorizar a educação de 23 povos indígenas do Estado. Um termo de compromisso foi assinado no sábado para criar o Plano Estadual de Educação Indígena e dar início à preparação de um projeto nacional. Os 23 povos que vivem na região de São Gabriel da Cachoeira (a 850 quilômetros de Manaus), com extensão de mais de 10 milhões de hectares, representam 10% da população indígena brasileira, com 35 mil habitantes. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), das 100 etnias indígenas brasileiras, 27 estão no Amazonas.

Cerca de 200 indígenas e representantes do MEC, das secretarias de Educação e de organizações não-governamentais, debateram em um auditório coberto de palha em São Gabriel por quatro dias a elaboração do documento. Um dos principais pontos do termo foi que o ministério deverá apoiar a publicação de materiais didáticos produzidos pelos professores e comunidades indígenas da região.

De acordo com o diretor-executivo da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), André Fernando Baniwa, uma das grandes dificuldades principalmente na educação fundamental, são os livros. Eles têm de ser editados em português e na língua específica de cada etnia. "Boa parte do material didático que utilizamos é produzido em convênios com ONGs", afirma André Baniwa. De acordo com o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, Armênio Schmidt, ainda não foram determinados valores para os investimentos.

PROFESSORES

A secretaria de Educação do Estado ficará encarregada da formação de professores para educação indígena. "Está cada vez mais raro professores que dominem a língua, principalmente para os povos ianomâmi e da família lingüística maku", diz Baniwa.

Um esforço conjunto das secretarias municipal e estadual vai possibilitar a reforma, a construção e a ampliação de escolas indígenas da região. O plano será detalhado pelas organizações indígenas. Hoje, dos 62 municípios amazonenses, 42 têm escolas para índios. Segundo Baniwa, outro ponto importante é uma revisão no currículo do ensino fundamental defendido pelo MEC e o praticado das escolas indígenas. A busca agora é pelo ikakadzekatakheti phiomedali, ou seja, o ensino integrado, na língua baniwa. "Uma criança indígena no ensino fundamental já tem aulas práticas de medicina tradicional e agricultura. Ao terminá-lo, seguindo as especificidades indígenas, o adolescente já está apto a aplicar essa educação vivenciada em suas comunidades. Já no currículo comum, a especialização é só no ensino médio", explica.

A representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Marie-Pierre Poirier, participou do último dia de discussões e afirmou ter saído "impressionada" com a mobilização para a melhoria do ensino das crianças indígenas. "A proposta aprovada não vampiriza as identidades das etnias, mas dá força para que formem seus planos desenvolvendo suas próprias especificidades, com clareza e objetividade." A próxima parada do grupo de trabalho do MEC, na realização do Plano Nacional de Educação Indígena, é o Pará.