Título: Neurocosmética, a arte de deixar a pele feliz
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2005, Vida &, p. A11

Sua pele está feliz hoje? A pergunta, à primeira vista, pode ter ares de esquizofrenia, só que na verdade simboliza uma das novidades no mercado dermatológico: refere-se à neurocosmética, à base de extratos de plantas com ação semelhante (apostam os dermatologistas) à da endorfina. A pele tem ligações com o sistema nervoso. Quando o cérebro produz endorfina, ela fica com aspecto relaxado. "As substâncias produzidas por algumas plantas têm efeito muito parecido com as endorfinas", explica a dermatologista Ligia Kogos. "É como se a pele tratada por elas ficassem com o efeito obtido por uma noite bem dormida."

Uma dessas plantas é a monk's pepper (pimenta dos monges), do sul da Europa. Curiosamente, o chá dessa planta tem fama de reduzir o desejo sexual, provocando sensação de relaxamento. A planta é usada pela Galena Química Farmacêutica, um dos poucos laboratórios que comercializam o princípio ativo com a chamada "fitoendorfina", o Happybelle.

A nanotecnologia é outro termo que tem circulado na área. Um milímetro de diâmetro equivale a 1 milhão de nanômetros. Pois a indústria de cosméticos tem usado nanopartículas para transportar produtos de combate às rugas para as camadas mais profundas da pele. "Quanto mais profundo o produto for, mais eficaz é o efeito", diz a dermatologista Esther Camara, diretora do Instituto da Pele, em São Paulo.

A pele é formada por duas principais camadas. A primeira é a epiderme, onde age a maioria dos cosméticos. Depois vem a derme, onde estão os receptores da dor e do tato, vasos sanguíneos que nutrem a pele e a tornam quente. Os produtos que usam nanopartículas como meio de transporte chegam até a derme.

Outra novidade na área, cuja aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vem sendo aguardada pelos dermatologistas, é o ácido-polilático. Injetável, estimula a produção de colágeno, proteína das fibras da derme, que dão firmeza ao órgão.

Nos Estados Unidos e na Europa ele já é vendido desde 1999. Aqui, quando for aprovado, virá por meio do grupo Sanofi-Aventis, com o nome de Sculptra. "A diferença em relação aos que também estimulam colágeno é que o Sculptra preenche rugas menos definidas, como a das mãos", explica Ligia. O colágeno é um dos principais alvos dos médicos no combate ao envelhecimento. A maioria das fibras da derme é de colágeno. Depois da menopausa, o colágeno diminui cerca de 2% ao ano.

Entre os produtos de combate à idade estão a vitamina C e o ácido retinóico, que estimulam a função dos fibroblastos, células responsáveis pela produção de colágeno. Dados preliminares da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) para 2004 mostram que o faturamento da indústria de cosméticos no País teve um salto de 8,7% em relação a 1999.

A delegada de polícia Cristiane Pires, de 37 anos, investe em anti-rugas desde os 17. "Comecei com cremes de limpeza. Aos 28, fiz meu primeiro peeling com ácido retinóico. Hoje, não saio de casa sem passar vitamina C no rosto e protetor solar", conta ela, que vai à dermatologista a cada dois meses. "Quem não sabe minha idade, diz que eu tenho 28. E isso faz muito bem para o ego."

"O envelhecimento cronológico começa por volta dos 40 anos, tanto para homens quanto para mulheres", diz o dermatologista Sergio Schalka, diretor de medicina do Instituto da Pele. "Mas alguns fatores externos aceleram o processo. O sol é o principal vilão, alterando as estruturas das células da derme e da epiderme." Os sinais na pele provocados pelo efeito solar começam aos 25 anos. Há um motivo cruel para que isso ocorra: cerca de 80% dos danos à pele, seja um câncer ou uma simples mancha, ocorrem até essa idade.