Título: Sírios fincaram raízes no país
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2005, Internacional, p. A12

As barreiras de sacos de areia e os tanques se foram há tempos e os soldados raramente são vistos nas ruas. O controle militar sírio não está mais à mostra no Líbano, a não ser por algumas bases do Exército e pelos grupos de soldados que montam guarda em postos de checagem nas estradas do interior. Hoje, o controle sírio está discretamente infiltrado no Parlamento, no gabinete do presidente, no setor financeiro e em quase todas as demais instituições. Os soldados sírios tinham a missão de manter a paz depois da guerra civil libanesa. Em vez disso, a Síria assumiu o controle, ignorando o prazo vencido há uma década para a negociação da retirada.

"É uma anexação sorrateira", disse o ex-presidente libanês Amin Gemayel. "A Síria não considera sua presença aqui temporária, como uma ocupação estrangeira, e sim natural. Eles acham que o Líbano é parte da Síria."

Para a Síria, o Líbano é um mercado livre, um lugar para se ganhar e guardar dinheiro. É também um trunfo crucial no caso de negociações com Israel. Além disso, muitos sírios vêem este país mediterrâneo gracioso, banhado pelo sol, como uma parte fundamental da nação síria histórica.

Mesmo se os soldados sumissem de um dia para o outro, a influência da Síria continuaria por meio dos agentes de informação e dos libaneses que vivem dos pagamentos sírios. Por mais de uma década o regime sírio intimidou e cooptou políticos e empresários, criou reis e marginais por decreto e misturou favores e ameaças para manter o poder.

O Líbano chamou os soldados sírios nos anos 70, num esforço para manter a paz; as tropas ganharam aprovação internacional para permanecer no país com os acordos de Taif, em 1989. A guerra civil terminou em 1990; dois anos depois, a Síria ignorou a disposição para recuar os soldados para a região fronteiriça e negociar uma retirada total.

Do presidente do Líbano aos reitores das universidades, os líderes são escolhidos a dedo pelo regime sírio. A Síria despejou bilhões de dólares em bancos libaneses e ergueu estátuas em homenagem à governante família Assad. "Não é preciso ver os tanques", disse Fares Souhaid, um membro do Parlamento. "Eles criaram uma classe de líderes militares, que está preparada para morrer a fim de proteger seus privilégios."