Título: Síria começará a retirar em breve tropas do Líbano, anuncia Liga Árabe
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2005, Internacional, p. A12

A Síria deixou claro que poderá começar a retirar em breve parte de suas tropas estacionadas no território libanês desde a guerra civil do Líbano (1975-1990), anunciou ontem o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa. Essa é uma primeira indicação de que o governo sírio esteja enfim cedendo à pressão do Líbano e da comunidade internacional. "O presidente Bashar Assad (da Síria) enfatizou mais de uma vez em nossas conversas sua firme intenção de seguir adiante com a implementação do Acordo de Taif e de planejar uma retirada síria do Líbano em conformidade com esse pacto", disse Mussa. "A retirada é parte da política síria. Veremos passos nessa direção muito em breve", disse Assad, segundo Mussa. Pelo Acordo de Taif, que pôs fim à guerra civil, a Síria deveria recuar suas tropas para o Vale de Bekaa, no leste, perto de sua fronteira. Isso foi feito apenas parcialmente. Também estabelecia que Beirute e Damasco deveriam definir um cronograma para a retirada completa. Essa segunda fase nunca chegou a ser negociada. O anúncio de Mussa ocorreu num dia de forte pressão sobre Damasco, tanto no âmbito internacional como no território libanês.

Poucas horas depois de Mussa ter falado em retirada de "parte" das tropas, os EUA e a União Européia reiteraram sua posição contrária à dominação síria. Os presidentes dos EUA, George W. Bush, e da França, Jacques Chirac, emitiram durante encontro em Bruxelas (ler mais na página A14) um comunicado conjunto exigindo a saída de todos os soldados sírios do Líbano - contingente estimado em 14 mil homens.

A campanha doméstica e internacional contra o domínio sírio ganhou forte impulso depois do assassinato uma semana atrás do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, num atentado com carro-bomba que também matou outras 17 pessoas. Os oposicionistas puseram a culpa na Síria, pelo fato de Hariri ter-se ligado aos políticos que pedem a saída do Exército sírio. "EUA e França se unem à União Européia e à comunidade internacional na condenação do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, e em apoio a um Líbano livre, independente e democrático", assinala o comunicado conjunto, que exige o cumprimento da Resolução 1559 da ONU, que pede a saída das tropas.

No Líbano, as manifestações aumentam de intensidade. Mais de 10 mil pessoas se concentraram ontem em Beirute no local da explosão que matou Hariri para exigir a saída das tropas sírias e o fim da ingerência de Damasco no governo local. Foi o maior protesto em Beirute nos últimos anos. "Fora Síria", "Liberdade, independência", diziam as faixas.

Uma delegação entregou na sede local da ONU petição assinada por 100 mil pessoas pedindo uma investigação internacional sobre o atentado, algo que o governo do Líbano (apoiado pela Síria) não aceita.

A UE informou ontem que se manterá vigilante para que as eleições parlamentares de maio, no Líbano, transcorram "livremente, sem interferência estrangeira", e insistiu numa investigação internacional do assassinato de Hariri.