Título: Tarifas vão subir, adverte Aneel
Autor: José Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2005, Economia, p. B4

As tarifas de energia elétrica deverão continuar subindo acima da inflação este ano, disse o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman. As causas são o aumento da tributação pelo PIS e pela Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o repasse de elevações de custos já ocorridas que não foram incorporadas às tarifas. Apesar de toda a discussão sobre o peso excessivo dos preços públicos na inflação, Kelman rejeita qualquer medida artificial para conter os reajustes. "Uma das razões para se ter agências independentes, que todos querem, é evitar que agruras do curto prazo no controle da inflação contaminem a execução dos contratos previamente fixados", afirmou. "Esse filme nós já vimos. Acaba com o setor totalmente desarranjado e, além da inflação, não temos energia."

Kelman disse que a eventual antecipação de reajuste da distribuidora Light, em exame no Ministério da Fazenda, não servirá de pretexto para outras distribuidoras solicitarem revisão de tarifas.

"No caso da Light, não houve reajuste tarifário extraordinário", afirmou. O que houve, esclareceu, foi a conclusão da revisão tarifária iniciada em novembro de 2003. O reajuste foi calculado sobre uma base provisória de R$ 3,5 bilhões (correspondente à parcela do capital que deve ser remunerada com a tarifa). No entanto, a base definitiva ficou em R$ 4,3 bilhões.

Diante da grande diferença e temendo que a crise financeira da Light prejudicasse os serviços ao consumidor, a Aneel pediu ao Ministério da Fazenda que antecipasse o reajuste de novembro para agora.

"Se for possível receber agora, o reajuste será de 6%. Em novembro de 2005 será mais, porque todos os créditos são corrigidos pela Selic", alertou Kelman. O que está em discussão na Fazenda é o momento em que será dado o reajuste. Essa revisão tarifária é feita em todas as empresas a cada 4 anos.

Mais do que o preço da energia, o que tem pesado no bolso do consumidor são os tributos que, avalia Kelman, já representam metade do valor da conta de luz. "Ficamos com a impressão de que a energia elétrica no Brasil é cara, quando na realidade é uma das mais baratas do mundo", comentou. "Com impostos e esses agravantes, fica cara."

LICENÇAS

Ele anunciou, ainda, estudos do governo para acelerar a concessão de licenças ambientais para a construção de usinas hidrelétricas. O governo federal poderá centralizar o licenciamento ambiental de todas as grandes usinas hidrelétricas, que na maioria dos casos estão sob responsabilidade dos órgãos ambientais estaduais. Das 17 usinas que estão para ser licenciadas e licitadas neste ano, apenas três estão com o Ibama, e 14 estão com os órgãos estaduais. Kelman acredita que a centralização acelerará o processo e permitirá que o governo federal saiba de antemão se os projetos estão atrasados ou não.

Outra medida é isentar os funcionários que trabalham com licenciamentos do risco de processos por decisões tomadas de boa fé. "Hoje a situação é aflitiva", disse. Segundo Kelman, o medo faz com que os funcionários adiem decisões ou se omitam, o que atrasa ainda mais os licenciamentos. "O funcionário público em geral não tem incentivos para acertar, só tem incentivos para não errar. Se ele errar , pode ser punido, se não acertar, nada acontece."

Ele classificou como vencida a discussão sobre a lei das agências, e disse que ela não é necessária no momento para tornar o ambiente mais atraente para os investidores. "Eu acho que essa discussão das agências ficou velha. Ninguém percebeu ainda que é muito barulho para pouca coisa", afirmou. "Essa lei nem é essencial para criar o ambiente dos investimentos, as agências como estão agora não necessitam urgentemente de uma lei, nem a retirada dessa lei seria considerada pelos investidores como uma ameaça."

Para ele, o projeto nasceu de uma concepção que não existe mais, segundo a qual as agências eram dispensáveis. Segundo ele, hoje já está consolidado o entendimento no governo e na sociedade de que a independência decisória das agências tem por objetivo criar um ambiente favorável aos investimentos.