Título: CPI da Terra pede cópia de dossiê sobre crime organizado no Pará
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2005, Nacional, p. A4

A CPI da Terra pediu ao procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, cópia do relatório divulgado ontem pelo Estado sobre a ligação do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) com empresários acusados de fomentar o crime organizado na Terra do Meio, no Pará. No requerimento, o relator da CPI, deputado João Alfredo (PT-CE), diz que as informações vão municiá-lo na elaboração do relatório final. Ele anexou ao pedido cópia da reportagem sobre o relatório feito pelo Ministério Público Federal, engavetado pelo governo há um ano e cinco meses. Para o presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a denúncia é de extrema gravidade. Ele disse que ela coincide com as acusações feitas pela missionária Dorothy Stang, assassinada dia 12 em Anapu (PA). Segundo Dias, no depoimento secreto que deu à CPI no ano passado, Dorothy "responsabilizou os beneficiados por 17 projetos financiados pela Sudam pela violência na área". A relação estaria na denúncia da Polícia Federal de que Jader comandaria o esquema de corrupção na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia.

No reinício dos trabalhos, a CPI da Terra quebrou o sigilo bancário, fiscal e telefônico de nove pessoas acusadas de desvio de recursos da Sudam e pelo aumento da violência no Pará: Laudelino Délio Fernandes, Lázaro de Deus Vieira, Lourival Santos da Rocha, José Décio Barroso Nunes, Regivaldo Pereira Galvão, Danny Gutzeit, José Francisco Vitoriano e Vitalmiro Moura, acusado de ser o mandante da morte da freira.

A CPI decidiu convocar a depor o interventor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Pará, Roberto Kiel, e o ex-superintendente do órgão José Roberto de Oliveira Faro. Segundo o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), Faro faria parte de uma quadrilha de grilagem em Santarém. Também serão chamados o líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), José Rainha, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, e o acusado de encomendar a chacina de sem-terra em Felisburgo, Adriano Chafik Luedy.

PROTEÇÃO

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) encaminhou ontem ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, documento solicitando o empenho do governo para garantir proteção à vida do frade francês Henri Roziers, da Comissão Pastoral da Terra.

No pedido, a OAB sustenta ter recebido denúncias de que frei Henri está ameaçado de morte. "Diante da gravidade das denúncias e considerando o trabalho voltado à defesa dos direitos humanos desenvolvido pelo religioso, solicito especial empenho no sentido de dar proteção a frei Henri", escreveu o presidente da OAB do Pará, Ophir Cavalcante Junior.

O frade mora no município de Xinguara (PA). Ele é conhecido no Pará por seu trabalho junto à Comissão Pastoral, onde atua como advogado de pessoas carentes. Henri é uma das principais lideranças das comunidades carentes do oeste paraense e combate a exploração da mão-de-obra escrava.

A decisão de encaminhar o ofício ao ministro da Justiça foi tomada depois que o conselheiro federal da OAB e ex-presidente da entidade no Pará, Sérgio Frazão do Couto, fez um alerta ao presidente Lula sobre as ameaças ao frei.