Título: Para ministros do PT, FHC liderou a eleição de Severino
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2005, Nacional, p. A9

Preocupados com a traição dos aliados e a demonstração de força do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na disputa pelo comando da Câmara, 16 dos 17 ministros do PT sentaram-se em volta de uma mesa, na noite de terça-feira, e traçaram um plano para salvar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva da "desagregação" da base partidária que o sustenta. Como se estivessem em uma terapia de grupo, os petistas lavaram roupa suja, criticaram companheiros e não companheiros, escancararam a fragilidade da articulação política do Planalto e chegaram à conclusão de que a derrota do governo na Câmara acendeu o sinal vermelho no partido. Durante o encontro a portas fechadas, na sede do PT, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse que havia "dois consensos" naquele debate. O primeiro: a articulação política do governo precisa ser repensada urgentemente. O segundo: é fundamental a coesão - hoje praticamente inexistente - da bancada do PT na Câmara. Mais do que isso, Palocci citou a necessidade de melhor relacionamento entre os ministros e os parlamentares aliados.

"Foi a nossa primeira reunião, depois da derrota na Câmara, para construirmos o pacto de unidade no partido", resumiu o presidente do PT, José Genoino. O único ministro do PT que não compareceu ao encontro foi Nilmário Miranda, titular de Direitos Humanos. Diplomático, Genoino negou que os petistas tenham bombardeado o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que é do PC do B. "Nós temos muito respeito por ele", desconversou.

DESCOMPASSO

A avaliação interna, porém, não só deu reiteradas estocadas em Aldo como constatou um "descompasso" entre a força política do PT - o maior partido na Câmara, com 91 deputados - e o seu poder de decisão no campo das negociações políticas. A pressão do PT para a saída de Aldo está cada vez mais forte. "Mas Lula não mexe nenhum músculo da face quando falamos sobre isso", contou um interlocutor do presidente. "Ele gosta muito do Aldo e não esboça qualquer reação."

Um grupo do PT quer que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, retome a coordenação política do governo. Outro defende para o cargo o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP). Na prática, a reunião que durou quatro horas e meia produziu uma constatação curiosa: todos os ministros do PT garantem que o partido não criará obstáculos para Lula fazer a reforma na equipe. Mas, apesar do aparente despojamento, pedem um petista na cadeira de Aldo.

Os ministros não escondem a angústia com a construção do palanque eleitoral de Lula para o projeto de reeleição, em 2006. Acham que, se não agirem agora para unir o PT e reconquistar partidos aliados, como o PMDB e o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, perderão ainda mais espaço para a oposição, que tem atacado a base pelas beiradas.

Genoino fez um relato da "operação de guerra" comandada por Fernando Henrique para prejudicar Lula e o PT na disputa da Câmara. Disse que, pouco antes da eleição, foi avisado pelo presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), de que os tucanos não apoiariam Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), candidato oficial do Planalto. Foi um baque.

Logo em seguida, recebeu a informação de que FHC estava operando pessoalmente para despejar votos do PSDB e até de seus aliados do PFL e PMDB em Severino. "Ele foi o timoneiro da operação contra nós. Percebeu que o mar estava revolto e o barco sem rumo e navegou com habilidade", comparou um ministro. "Agora, nós estamos juntando os cacos para reagir".