Título: Prejudicados somam 20% dos pacientes da América Latina
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2005, Vida &, p. A13

A falta de remédios no Brasil foi de uma proporção relativamente importante em termos mundiais. Segundo dados oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS), 700 mil pessoas hoje nos países em desenvolvimento recebem tratamento contra a aids de forma gratuita. Os problemas no Brasil, portanto, afetaram 9% desse total. Se a comparação for feita em relação à América Latina, o problema mostra-se ainda mais significativo. Os cerca de 60 mil pacientes brasileiros afetados representam cerca de 20% das 275 mil pessoas que recebem o tratamento gratuitamente na região. Entre as economias em desenvolvimento, somente o Brasil e outros sete países - Argentina, Cuba, Chile, Uruguai, Panamá, México e Botswana - conseguem distribuir remédios para mais de 75% da população afetada pela doença.

Para o especialista da entidade britânica Oxfam, Michael Baily, a "falha burocrática" no Brasil "preocupa", principalmente se o problema foi a falta de planejamento. Ele destaca que uma das exigências para que um programa antiaids possa funcionar é sua continuidade. "Caso haja uma interrupção, há o risco de os pacientes formarem uma resistência contra os anti-retrovirais."

Técnicos da OMS já declararam que a falta de remédios no País pode servir de alerta. "Mesmo programas de vanguarda como o do Brasil estão sujeitos a problemas como esse. E eles poderão se tornar mais freqüentes e mais graves no futuro se uma política de produção local de medicamentos estratégicos, como os anti-retrovirais, não for implementada em países-chave", afirmou Marco Antônio de Ávila Vitória, do Departamento de Aids da OMS.

A agência da ONU criou em 2003 um programa para atingir 3 milhões de soropositivos até o fim deste ano. O diretor da OMS, Jong-wook Lee, deixou claro na época que o modelo do Brasil era a fonte inspiradora. A OMS chegou a levar para seus quadros o então coordenador do programa brasileiro, Paulo Teixeira.

O brasileiro, que já deixou a entidade, foi o responsável por montar o programa e, em seis meses, a OMS já dobrou o número de pessoas em tratamento na África, somando 310 mil. Na avaliação da agência, outros US$ 2 bilhões serão necessários este ano para que a meta seja cumprida e alcance as 2,3 milhões de pessoas restantes.