Título: Bush e Schroeder esquecem guerra e fazem advertência conjunta ao Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2005, Internacional, p. A17

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o chanceler da Alemanha, Gerhard Schroeder, deixaram de lado ontem suas divergências sobre o Iraque e fizeram um alerta conjunto ao Irã para que não desenvolva a bomba atômica, embora tenham enfoques diferentes sobre a maneira de enfrentar o assunto. Em entrevista coletiva na cidade alemã de Mainz, Bush procurou atrair a simpatia dos alemães, indiferente a ruidoso protesto de pelo menos 15 mil pessoas contra a presença dele no país: "A Europa é o aliado mais próximo dos Estados Unidos. Para ter boas relações com a Europa, é preciso manter boas relações com a Alemanha", disse.

A oposição alemã à invasão anglo-americana do Iraque azedara as relações entre Washington e Berlim. O secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, chegou a classificar na época Alemanha e França (que também discordou da guerra) representantes da "velha Europa".

"Ninguém está negando hoje que houve diferenças no passado, mas é passado", disse, por sua vez, Schroeder, que enfureceu a Casa Branca em sua campanha para reeleição em 2002 ao expressar sentimentos anti-Bush em comícios em Berlim e outras cidades. O líder alemão reiterou que seu país continuará treinando policiais iraquianos. Bush agradeceu.

Ele fez ontem na Alemanha as afirmações mais conciliadoras do atual giro pela Europa, iniciado na segunda-feira por Bruxelas, onde se reuniu com os líderes de 25 países nas sedes da União Européia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

O presidente americano voltou a insistir que é preciso impedir o Irã de fabricar armas nucleares. E não descartou a possibilidade de uma ação militar contra Teerã, mas reiterou sua preferência pela via diplomática apontada pelos europeus: "O Irã não é o Iraque. Iniciamos esforços diplomáticos e quero agradecer nossos amigos (Alemanha, França e Grã-Bretanha) por terem tomado a iniciativa. Trabalharemos com eles para convencer os aiatolás de que têm de renunciar a suas ambições nucleares."

Comentando as declarações de Bush, o presidente iraniano, Mohamad Khatami, alertou ontem os EUA para não atacarem o Irã. "Nossas Forças Armadas, nosso povo e nosso governo estão preparados para fazê-los se arrepender dessa loucura", disse o líder iraniano. "Se os EUA dispõem de juízo sabem que não podem suportar o preço desse ato, que seria mais elevado para eles do que para nós."

Berlim, Paris e Londres estão oferecendo incentivos econômicos a Teerã para que desista de seu programa de enriquecimento de urânio. A propósito, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, considerou viável alcançar um acordo. "Creio ser possível, mediante o compromisso da Grã-Bretanha, França e Alemanha, apoiado pelos EUA, chegar a uma solução diplomática com o Irã", afirmou ontem Blair.

Outro assunto abordado pelo presidente americano em Mainz: a crise libanesa. Bush destacou que a retirada síria do Líbano não se deve limitar às unidades militares ali estacionadas há mais de 15 anos, mas também às centenas de agentes secretos infiltrados no país.

Contudo, deixou claro que os Estados Unidos, antes de adotarem sanções, aguardarão uma resposta de Damasco. "Veremos como eles (os sírios) responderão, antes de voltar a debater a questão na Organização das Nações Unidas", insistiu.

Hoje, Bush se reúne em Bratislava, Eslováquia, com o presidente russo, Vladimir Putin (ler abaixo).