Título: Desocupação de jovens é quase o dobro da média nacional
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2005, Economia, p. B4

O fantasma do desemprego sempre assombrou mais a população acima de 40 anos. No entanto, as estatísticas demonstram que na prática a situação é outra: o desemprego no Brasil entre os jovens é quase duas vezes maior do que a média nacional. Em 2003, dos brasileiros que tinham entre 18 e 24 anos, 18% estavam sem trabalho, enquanto a taxa total de pessoas sem ocupação foi de 9,7% no mesmo período. A constatação é de um estudo divulgado ontem pela Organização Gelre, com base em dados coletados na Pesquisa por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2003. A empresa é especializada em relações humanas do trabalho e elaborou o levantamento em conjunto com o professor João Sabóia, diretor-geral do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

De acordo com a análise, o baixo crescimento econômico brasileiro nos últimos anos tem se refletido no aumento das taxas de desemprego, especialmente em 2003, quando a economia ficou estagnada, o que afetou os jovens que estão entrando no mercado de trabalho. A situação é mais preocupante nas Regiões Sudeste e Norte, que apresentaram taxa de desocupação de 20,5% entre as pessoas com idade entre 18 e 24 anos. Na Região Norte, porém, a PNAD só levou em conta a condição do emprego nas áreas urbanas.

O quadro mais alarmante no Sudeste foi observado no Rio, onde o desemprego alcançou 24,7% dos jovens. São Paulo veio logo em seguida (21,2%), seguido do Espírito Santo (16,9%) e Minas Gerais (16,8%). "A taxa de desemprego entre os mais pobres é significativamente mais elevada", alerta Sabóia. Ele cita que o rendimento de 40% dos que tinham entre 15 e 24 anos não passava de um salário mínimo e, nas Regiões Norte e Nordeste, a proporção ultrapassou metade dos ocupados. No Sudeste, a fatia foi de um terço.

A relação entre renda e estudo também mostra uma situação peculiar entre os jovens de 15 a 17 anos. Nas famílias com renda superior a dois salários mínimos, 79,1% deles apenas estudavam, ante 55,7% dos que tinham renda inferior. Segundo Sabóia, isso mostra que as políticas públicas voltadas ao jovem devem levar em conta que, embora ele esteja estudando mais do que há dez anos, seu nível de escolaridade está abaixo das crescentes exigências dos postos de trabalho.

Comércio e serviços foram os setores que mais empregaram jovens entre 15 e 24 anos (51%). Entre os que tinham até 17 anos, a agricultura despontou como principal ramo empregador (33,4%). "A agricultura absorve o pessoal mais jovem. Isso mostra que políticas como o Primeiro Emprego têm sido aparentemente um fracasso", diz o professor da UFRJ.

Os jovens entre 15 e 17 anos mostram uma tendência de desaceleração na taxa de atividade. Há 12 anos, 53,3% deles estavam ocupados, enquanto em 2003 a fatia foi de 39,4%. No grupo de 18 a 24 anos o comportamento foi estável, com 73% em 1993 e 73,2% há dois anos. A ocupação entre homens é bem superior em relação às mulheres. Na faixa de idade de 15 a 17 anos, 47,3% dos que estavam empregados em 2003 eram do sexo masculino e 31,3% do sexo feminino.

O estudo da Gelre e da UFRJ conclui que a melhoria das condições do jovem no mercado de trabalho não passa apenas por melhorar as leis e programas já existentes ou criar novas leis e programas, mas, principalmente, por criar condições econômicas mais favoráveis para a população de baixa renda.