Título: SP tem menor desemprego em 3 anos
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2005, Economia, p. B4

O desemprego na Região Metropolitana de São Paulo caiu pelo nono mês consecutivo e atingiu em janeiro o nível mais baixo dos últimos três anos. Pesquisa divulgada ontem pelo convênio entre a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostra que a taxa recuou de 17,1% da População Economicamente Ativa (PEA), em dezembro, para 16,7%, no mês passado - a menor desde janeiro de 2001, quando bateu em 16,3%. Mas a pesquisa também indica que a melhora no mercado de trabalho ainda não foi sentida no bolso do trabalhador. Em dezembro (último dado disponível), o rendimento médio real dos ocupados caiu 0,4%, em comparação com o mês anterior, e passou a corresponder a R$ 1.013. É o valor mais baixo já verificado em um mês de dezembro em toda a série histórica da pesquisa, iniciada em 1985. Em relação a dezembro de 2003, a queda do rendimento foi de 4,4%.

Segundo a pesquisa, havia 1,659 milhão de pessoas sem ocupação na região no mês passado, 59 mil a menos do que em dezembro. O desemprego caiu porque 114 mil pessoas deixaram de procurar emprego. O número de pessoas que saíram momentaneamente do mercado de trabalho foi suficiente para compensar as 55 mil vagas fechadas no período e ainda derrubar a taxa de desemprego.

"A redução de vagas em janeiro é normal, pois normalmente neste período são fechados os empregos temporários criados para o Natal", diz o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. "A novidade foi a abertura de vagas na indústria e no comércio, um movimento atípico para essa época do ano que impediu o avanço do desemprego".

No mês passado, a indústria abriu 31 mil postos de trabalho, o que corresponde a um aumento de 2% no nível de emprego do setor, a maior variação já registrada de dezembro para janeiro desde 1985. Além disso, a pesquisa mostra que o crescimento do emprego no setor ocorreu tanto em empresas exportadoras como naquelas que dependem exclusivamente do mercado interno. Também foi registrada a abertura de 24 mil vagas no comércio. Já a construção civil e os serviços domésticos fecharam 64 mil ocupações e o setor de serviços em geral fechou outras 46 mil vagas.

"A melhora do mercado de trabalho reflete o crescimento econômico de 2004. Para este ano, os indicadores sinalizam um crescimento de 3,5% a 4%, e se isso se confirmar deveremos ter continuidade na queda do desemprego", afirma Ganz Lúcio. Para ele, a recuperação valor do rendimento do trabalhador depende da manutenção do crescimento da economia e do emprego.

Apesar disso, o diretor-técnico do Dieese disse que a taxa de desemprego deve voltar a subir nos próximos dois meses, principalmente porque os trabalhadores que deixaram de procurar emprego em janeiro deverão retornar ao mercado.

BAIXOS SALÁRIOS

Na sua avaliação, a queda da renda do trabalhador em dezembro pode ser explicada pelo fato de as ocupações criadas na região serem de baixa remuneração. O aumento da rotatividade no trabalho, com demissões entre os salários mais altos e contratações por salários mais baixos, também influencia a redução do valor do rendimento médio. Tanto é que a massa de rendimentos dos ocupados (total de ganhos do trabalho) apresentou queda de 0,9% em comparação com dezembro de 2003, apesar de o nível de emprego ter crescido no período. Em relação a novembro, houve estabilidade (-0,3%).

"Havia uma expectativa de recuperação da renda, apontada por algumas pesquisas feitas com empresas, que não registram o emprego sem carteira assinada. Nos últimos meses, têm predominado as contratações informais e de trabalhadores autônomos, com salários baixos, sem carteira assinada e sem os reajustes previstos em lei", afirmou o diretor do Dieese.