Título: Nada garante aumento de exportações, diz Barbosa
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2005, Economia, p. B7

O reconhecimento da China como economia de mercado pelo Brasil, em novembro passado, não garante que as exportações brasileiras vão crescer acentuadamente. O alerta contra o principal argumento apresentado pelo governo para justificar a iniciativa vem do embaixador Rubens Barbosa que, aposentado da carreira diplomática, agora preside o Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A seguir, trechos da entrevista: Apesar de o governo ter ressaltado a importância do acordo com a China para a elevação das exportações brasileiras, o senhor tem insistido que não devemos alimentar essas "ilusões". Por quê?

Nas estatísticas do comércio bilateral, mais de 90% das exportações brasileiras para a China correspondem a produtos primários. Mas o Brasil não vende esses bens para a China. É a China quem os compra do Brasil. A economia chinesa é centralmente planificada, é seu governo quem decide se aumenta ou não as compras de commodities dos produtores brasileiros. No caso dos produtos industrializados, a elevação das exportações depende mais do esforço empresarial brasileiro em penetrar no mercado chinês. Pequenas e médias empresas quase não terão chances.

Por que o setor industrial ficou incomodado com a decisão do governo de reconhecer a China como economia de mercado?

Primeiro, porque a medida foi tomada sem nenhuma consulta ao setor privado. Segundo, porque nenhum país desenvolvido reconheceu a China como economia de mercado. Terceiro, porque houve somente intenções de compras de produtos brasileiros e de associações. Por fim, em virtude da desvalorização cambial na China e da valorização do real, os produtos chineses poderão se tornar ainda mais competitivos no mercado brasileiro.

Aplicações de medidas de defesa vão esbarrar no reconhecimento formal da China como economia de mercado?

Não sei se será mais difícil a aplicação desses instrumentos. Com certeza, será mais demorado porque terá de ser feito via Organização Mundial do Comércio (OMC) e teremos de apresentar os números que comprovem o aumento das importações e o dano que ele provocou. Mas isso não impede que peçamos ao governo a adoção de medidas defensivas.