Título: PP aproveita crise e cobra dois ministérios
Autor: Vera Rosa, Colaborou: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2005, Nacional, p. A4

Diante da crise política instalada em Brasília, o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), tem tudo para passar da condição de aliado de segunda classe para a de integrante da Esplanada dos Ministérios com tapete vermelho. Prometida para este mês, a reforma ministerial está agora diretamente ligada ao desfecho do imbróglio pós-discurso. "Se o presidente Lula quiser conversar, estamos à disposição, até porque é difícil fazer um governo de coalizão sem o PP", afirmou o presidente do partido, Pedro Corrêa (PE). Para ele, ou o PP entra no governo com pelo menos dois ministérios ou é melhor ficar de fora. "Depois que Severino ganhou a presidência da Câmara, temos muito mais visibilidade. Além disso, hoje nossa bancada conta com 54 deputados federais", destacou.

Na tentativa de melhorar o relacionamento com o Congresso, há quem defenda no governo mais um assento no núcleo de coordenação política - composto pelos ministros mais prestigiados, que toda semana traçam estratégias junto com o presidente - para outro partido da base de sustentação.

Atualmente, o único integrante desse núcleo que não está no PT é o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Aldo é filiado ao PC do B e virou o maior alvo do bombardeio petista da temporada.

Depois da derrota do governo na disputa pela presidência da Câmara, há duas semanas, o PT reforçou a pressão para tirá-lo do cargo. Com o argumento de que as negociações partidárias para a montagem do palanque da reeleição de Lula, em 2006, não podem ser coordenadas por um político que não é do PT, petistas têm na ponta da língua dois nomes para a cadeira de Aldo: o chefe da Casa Civil, José Dirceu, ou o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Ao que tudo indica, não serão atendidos.

VAREJO

A pressão do PT e dos aliados tem deixado Lula literalmente furioso. "Falam como se eu fosse ouvir tudo o que o PT quer", esbravejou o presidente durante conversa com um interlocutor, na semana passada. "Não dá para decidir as coisas assim, no calor das emoções. Essas pessoas que ficam querendo dar ordem vão quebrar a cara."

O presidente demonstra cada vez menos paciência para o varejo da negociação política, mas está convencido de que precisa retomar as conversas com os aliados, incluindo o PMDB, cada vez mais rebelde.

O PP deixou claro que não gostou da forma como foi demitido o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Luiz Carlos Bueno de Lima, indicado pelo partido. Lima acusou seu chefe, o ministro da Saúde, Humberto Costa, de cruzar os braços diante do alerta de que havia risco de falta de remédios para o combate à aids. "Era Humberto Costa que deveria ter sido demitido por incompetência", protestou o líder do PP na Câmara, José Janene (PR).