Título: Crédito e renda travam comércio
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Economia & Negócios, p. B7

As vendas do comércio varejista ficaram estagnadas em outubro na comparação com o mês anterior, sob efeito da perda de ritmo nos crescimentos do crédito e do rendimento médio dos trabalhadores. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem uma variação de 0,06% nas vendas em outubro ante setembro, após dois meses de variações próximas de zero, mas negativas, nessa base de comparação. Houve alta de 3,74% ante outubro de 2004, variação menor do que a dos meses anteriores. Reinaldo Pereira, da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, disse que os dados do comércio confirmam a desaceleração do crédito e "um certo grau de satisfação da demanda" em relação a bens duráveis (móveis, eletrodomésticos). Segundo ele, os consumidores já esbarram num limite de endividamento ou já adquiriram os eletrodomésticos desejados.

Segundo ele, os dados de móveis e eletrodomésticos (-0,44% ante setembro) confirmam que o crédito "existe, mas já cresce menos". Pereira observou ainda que a continuidade da perda de ritmo do crescimento das vendas do varejo, ante igual mês do ano anterior, reflete também uma "situação de menor atividade" da economia.

O crescimento de 3,74% ante igual mês do ano passado veio após aumentos de 6,81% em agosto e 5,35% em setembro nessa base de comparação. Segundo Pereira, esse ritmo menor de expansão se justifica, além do crédito e menor atividade econômica, pelas menores variações no crescimento do rendimento médio real dos trabalhadores.

A renda tem influência direta no desempenho de hiper e supermercados, segmento de maior peso na pesquisa que continua indicando aumentos, mas de menor tamanho (1,43% ante outubro de 2004, menor do que os 3,86% de setembro nessa base). Segundo Pereira, já está claro que o varejo não alcançará em 2005 crescimento sequer próximo dos 9,25% acumulados em 2004. De janeiro a outubro, o acumulado foi de 4,82%.

Os técnicos do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), que reúne as maiores cadeias de lojas do setor no País, divulgaram ontem documento no qual avaliam que o comércio varejista está estagnado há três meses.

Para o IDV, além da estagnação diagnosticada nos dados comparados com mês anterior, os resultados ante outubro do ano passado "mostram um processo de gradativa queda de dinamismo do varejo brasileiro, pois em setembro a variação com relação a esse mesmo mês de 2004 foi de 5,4% e, em agosto, o crescimento chegou a 6,8%". A instituição projeta um aumento de 4,5% nas vendas do comércio varejista para 2005, menos da metade da taxa de 2004 (9,3%).