Título: França fecha as portas para qualquer entendimento
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Economia & Negócios, p. B10

A França deixa claro a todos que queiram ouvir: se depender dela, não haverá nenhuma possibilidade de flexibilizar a sua posição sobre a abertura dos mercados agrícolas durante a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Hong Kong. A mensagem veio de altos membros do governo de Jacques Chirac, que impediram ontem que a União Européia (UE) aceitasse o prazo de 2010 para retirar seus subsídios a exportação, como pede o Brasil. "Já estamos de calcinha e sutiã e vocês querem que continuemos a tirar a roupa. A resposta é não", disse a ministra do Comércio da França, Christine Lagarde.

"Lamento decepcioná-los, mas não há nenhuma oferta nova da parte da França sendo estudada", acrescentou a ministra, que ontem esteve com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Luiz Fernando Furlan, e insinua nos bastidores que Brasil e Estados Unidos teriam fechado um acordo sobre o tema dos subsídios ao algodão e domésticos para pressionar a Europa.

"Estamos no limite do limite do limite, não há nada mais a oferecer", afirmou o ministro da Agricultura da França, Dominique Bussereau. "Não estamos preparados para flexibilizar nossa posição", disse. "Já estamos de cueca e agora vocês querem que tiremos o resto. A resposta é obvia: não", completou Lagarde.

Os franceses têm sido os maiores opositores a qualquer tipo de concessão que possa fazer a União Européia (UE). Há poucos meses, o próprio presidente Chirac ameaçou vetar um acordo na entidade se Bruxelas optasse por fazer uma nova oferta agrícola aos países em desenvolvimento.

Os europeus aceitam um corte de apenas 39% de suas tarifas para produtos agrícolas, enquanto o Brasil pede corte de 54% e os americanos ainda exigem reduções superiores.

Sem se mover nos aspectos centrais das negociações agrícolas, a França não aceita falar nem sequer sobre temas periféricos, como o tratamento de produtos sensíveis. O Brasil acreditava que, sem poder tratar das tarifas, pelo menos poderia avançar nesses temas.

Os europeus querem a proteção de 8% de suas linhas tarifárias, o que representaria cerca de 200 produtos. "Não vamos mudar nossa oferta nem parcelar o debate sobre a agricultura", alertou Christine Lagarde.

SEM PROMESSAS

Para os franceses, está na hora de o Brasil e outros países emergentes apresentarem ofertas sobre a abertura de seus mercados para produtos industriais. "Falei com Luiz Fernando Furlan e perguntei sinceramente: onde está a oferta do Brasil sobre produtos industriais? ", disse Lagarde ao Estado.

Segundo ela, a resposta que obteve é que o governo está trabalhando no asusnto. "Furlan não prometeu nada. A realidade é que a proposta é vazia."